
Naquela época, seca, terremotos ou meteoros não amedrontavam a população, de acordo com o especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém Rodrigo Pereira da Silva. Uma grande inundação, um dilúvio, era a catástrofe que se temia. “Quando um povoado fundava novas civilizações, erguer uma torre era um procedimento-padrão. Além de funções religiosas, a construção servia para que se escapasse de novas inundações”, diz Silva. Atualmente, já foram encontradas 31 ruínas de torres na Mesopotâmia. A de Jericó é a única naquela cidade. E o muro em torno dela está estruturado como uma espécie de dique. “A fundação das cidades está diretamente ligada à construção de torres e ao medo de um dilúvio. Isso é claro na arqueologia”, reforça o especialista.
A literatura bíblica relata que um grupo de pessoas vindo do Oriente habitou um vale em Sinar, hoje Iraque, e ergueu uma torre. Está em Gênesis capítulo 11. Para punir a ousadia desses humanos que queriam tocar os céus, Deus fez com que eles falassem idiomas diferentes, tornando impossível a comunicação entre eles e os obrigando a migrar para outros lugares da Terra. Babel, em hebraico, significa confundir. A Torre de Babel, portanto, seria uma representação do episódio da confusão das línguas patrocinado por Deus. Um tablete de argila com escrita cuneiforme – um dos primeiros textos da humanidade, datado de 2500 a. C., encontrado no Iraque e traduzido em 1872 – traz um relato controvertido que parece ser um paralelo à história bíblica da Torre de Babel: “...seu coração se tornou mal... Babilônia submeteu os pequenos e os grandes. Ele (uma divindade) confundiu seus idiomas... o seu lugar forte, que por muitos dias eles edificaram, numa só noite ele trouxe abaixo.”
Outro texto cuneiforme, produzido em cerca de 2200 a.C. e publicado em 1968, faz menção de uma época em que havia “harmonia de idiomas em toda Suméria” e os cidadãos “adoravam ao deus Enlil numa só língua... o deus Enki, senhor da abundância... e o líder dos deuses... mudou a linguagem na sua boca e trouxe confusão a eles. Até então, a linguagem dos homens era apenas uma”. A Bíblia, portanto, seria um elo entre a história da Torre de Jericó e as construções anteriores na Mesopotâmia. “Há elementos históricos para supor que algum tipo de dilúvio de proporções catastróficas ocorreu de fato, assim como uma Torre Babel”, diz o arqueólogo Silva, que leciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). “A história da Bíblia tem plausividade arqueológica e histórica.”
Professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese argumenta que a veracidade bíblica não se sustenta pela ciência, mas pela fé. Para ele, um especialista em história das religiões, o autor de Gênesis, diante da multiplicidade de línguas e com os olhos repletos de religiosidade, lançou mão de uma narrativa que passa pela realidade para entender o mundo que o cercava. “Não estou invalidando o discurso bíblico, mas prefiro seguir a linha de pensamento dos teólogos alemães da primeira metade do século XIX. Influenciados pelo racionalismo, eles acreditam que o dilúvio, a Torre de Babel, Caim e Abel, Adão e Eva são formas de exprimir um Deus agindo do ponto de vista literário.” [Chevitarese prefere ficar com a escola teológica alemã de dois séculos atrás a se render aos fatos da arqueologia.]
O novo propósito atribuído à construção da Torre de Jericó pela dupla Liran e Barkai, da Universidade de Tel-Aviv, publicado na conceituada revista inglesa de arqueologia Antiquity, aproxima o contexto cultural com a Torre de Babel bíblica e abre espaço, se não para a certeza, para a possibilidade histórica de uma passagem das Sagradas Escrituras.
Fonte: IstoÉ
Lido em: Criacionismo
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