sexta-feira, 28 de maio de 2010

Autoavaliação sobre contribuição de disciplina para minha formação acadêmica

A seguir, apresento o texto de uma autoavaliação sobre meu aprendizado, com relação à disciplina de Supervisão de Estágio em Geografia III, solicitada pelo respectivo professor à classe.

A disciplina de Supervisão de Estágio tem importância fundamental na formação de graduandos do curso de Licenciatura Plena em Geografia. Visto que fornece aos acadêmicos a base teórica norteadora e iniciação à prática de regência em sala de aula, como se fosse uma pré-estréia da atividade profissional em si. Porém, o sucesso profissional do futuro professor de Geografia depende também de algumas características peculiares de cada graduando. Ou seja, fornece um preparo adequado para o estagiário, mas não é tudo. Tomaremos para análise minha própria experiência formativa, que está em sua fase final neste ano de 2010.

Ao contrário do que alguns pensam hoje, ser professor é uma missão valorosa que deve ser encarada com seriedade e senso de grande responsabilidade, por se tratar de um profissional que é um dos maiores responsáveis pela educação de crianças e jovens (principalmente), se não o maior deles. Sendo assim, vejo que, para esta missão profissional ser bem-sucedida, uma boa formação acadêmica tem grande peso, logicamente. A disciplina de Supervisão de Estágio em Geografia está sendo para mim de grande valia, uma vez que aprendo as principais correntes pedagógicas que regem o ensino-aprendizado na maior parte das escolas do Brasil e do mundo, podendo eu fazer uma comparação entre elas e notar suas vantagens e desvantagens.

Teorias pedagógicas principais estas como a Tradicional, que foi muito usada no final da Idade Média, vindo a perder sua hegemonia com o surgimento do movimento Escola Nova, sendo uma teoria não-crítica e magistrocêntrica. Dentro do escolanovismo surgiram teorias como a Humanista, que defende a individualidade e independência do aluno, sendo pedocêntrica; a Cognitivista, baseada na ideia da interação sujeito-objeto para o desenvolvimento do aprendizado do aluno; a abordagem Sócio-Cultural, que enfatiza aspectos sócio-político-culturais e vê o homem como agente transformador desses aspectos e outros, tendo uma relação horizontal professor-aluno, onde ambos aprendem; a Comportamentalista, ligada ao método condicionante, modelos de ensino e vê o aluno como objeto de aprendizagem; etc. Vemos ainda, na disciplina de Supervisão de Estágio em Geografia, as pedagogias Tecnicista e Histórico-Crítica. Aquela se refere ao uso de técnicas de reprodução da sociedade voltadas para o ensino, sendo não-crítica e de interesse capitalista; e a Histórico-Crítica é a pedagogia adotada pela maioria das escolas públicas do estado do Paraná, por exemplo, onde o aluno é incentivado a pensar a sociedade e suas relações dialéticas de forma crítica, contextualizada com a evolução histórica, sugerindo uma revolução nos sistemas, a fim de tornar a sociedade mais igual em direitos e deveres, de fato. Isso, pelo menos, é a proposta no papel, já na realidade...

Identifico-me mais com a última abordagem pedagógica apresentada acima, de modo geral, ao compará-las entre si. Mas, ao estudar uma outra teoria pedagógica paralelamente a aquelas acima, que não é ensinada na universidade pública (e nem deve ser), vejo que tenho que citá-la e apresentá-la (mesmo que superficialmente) aqui, por julgar ser mais completa e mais eficiente (apesar de também estar longe de ser perfeita) que as demais aprendidas na disciplina de Supervisão de Estágio em Geografia ou em outras disciplinas.

Trata-se da Pedagogia Adventista, que é adotada pela Rede Adventista de Ensino, existindo no Brasil e em outros países, uma das maiores redes particulares de ensino do mundo. É uma pedagogia confessional que tem as seguintes características principais: ênfase na formação do caráter através dos relacionamentos; visão do homem como um ser em permanente mudança, capaz de aperfeiçoar-se, autônomo, social e transcendente; vê o mundo como um ambiente criado e sustentado para o desenvolvimento do homem segundo o propósito de Deus, o Criador descrito na Bíblia; a sociedade/cultura em processo de restauração e agente educador, onde as pessoas dependem delas para seu desenvolvimento (ao contrário da Humanista, de Neil); escola como agência de educação em cooperação com a família, a igreja e a comunidade; conhecimento é a revelação de Deus e se dá pelas inter-relações Deus-homem-mundo; o ensino-aprendizagem ocorre pela prática da cidadania; relação horizontal maior que vertical entre professor e aluno; metodologia baseada nos métodos de ensino de Jesus Cristo selecionados pelo professor, de acordo com a individualidade dele; avaliação processual, mútua e do ambiente; modelo relacional; e, por fim, tem como precursora a escritora norte-americana Ellen G. White. O livro Pedagogia Adventista é publicado pela Casa Publicadora Brasileira (CASA). Lembrando que todas as abordagens têm seu valor e devem ser consideradas.

Por ser cristão adventista e por entender que Jesus foi o maior Pedagogo/Professor da história deste mundo (por exemplo, já viu alguém prender a atenção de seus alunos durante três dias quase que ininterruptos a ponto de seus alunos até se esquecerem de comer, ensinando-os conforme a linguagem que entendiam – se pastores, parábolas envolvendo o pastoreio; se pescadores, estórias envolvendo a pesca –, tudo a fim de melhorar a compreensão do tema abordado, conforme fez Jesus? Ele conciliava a teoria e a prática, ensinando e enviando seus discípulos a campo para transmitirem o que aprenderam). Creio que não fujo do foco da autoavaliação, por considerar a Pedagogia Adventista uma abordagem que arremete ao maior Pedagogo/Professor da história e Seus métodos de ensino, que são passados por despercebidos na disciplina de Supervisão de Estágio e em outras disciplinas. Isto não é uma crítica aos professores das disciplinas, longe disso, mas ao sistema curricular da universidade pública, no caso, a Universidade Estadual de Maringá e, principalmente, à sociedade pós-moderna que temos hoje. Somente a Didática de Comênio é apresentada hoje na UEM, mas já é alguma coisa. Com isso, não estou dizendo que sou totalmente simpático a esta Didática de Comênio, assim como não defendo um ensino religioso embutido nas disciplinas, mas sim, a valorização de um exemplo formidável de sucesso na relação de ensino-aprendizagem, o de Jesus.

A Pedagogia Histórico-Crítica deixa a desejar nas formas de ação para se fazer a tal revolução que objetiva alcançar a igualdade humana. A Pedagogia Adventista também concebe a sociedade como uma sociedade com relações dialéticas (por estar envolvida no conflito entre o bem e o mal) e, muitas vezes, movidas por interesses individualistas; mas, ao contrário da Histórico-Crítica, vê uma solução definitiva para isso, que está no campo espiritual, assim como soluções paliativas com base em princípios próprios. Quantas revoluções já ocorreram ou foram tentadas na história deste mundo que deram certo, tornando a sociedade mais igual, justa, democrática e livre, ao mesmo tempo? Não conheço nenhuma. Não seriam, estas, metodologias utópicas? A sociedade só vai mudar se cada um mudar. E esta revolução acontece primeiramente no campo espiritual de cada indivíduo. A parábola do “jovem rico”, descrita na Bíblia, ilustra bem o porquê de tudo isso não mudar. O que os relatos do livro de Atos dos Apóstolos, sobre como viviam os cristãos dos primeiros séculos, têm a ensinar a esta sociedade pós-moderna?

A Supervisão de Estágio III está me ajudando a entender melhor que o professor não deve assumir uma hiperresponsabilidade com relação aos alunos, escola e sociedade; mas deve estar ciente de que seu papel é de ensinar o conteúdo, sendo sim um importante agente no processo de transformação do ensino escolar, mas nem tudo depende dele.

Isso é algo que já tinha em mente, por considerar que o professor faz parte da sociedade e se limita a desenvolver a conscientização nos alunos, mas depende das respostas deles e respostas do resto da sociedade em que estão inseridos. Quantas pessoas já não sabem, por meio do ensino escolar principalmente, que é errado jogar lixo no chão ou não se deve ocupar áreas com risco de deslizamento de encostas, por exemplo? No entanto, a poluição ambiental continua a crescer por causa do descaso que muitos fazem e pela falta de fiscalização e multas, por parte do poder público; e casos como as tragédias que ocorrem por deslizamentos nos morros cariocas, onde a culpa maior é do poder público que faz poucas políticas voltadas à habitação para atender a sociedade menos favorecida, evitando que esta sociedade tenha que optar pela quase que única alternativa, que é morar em áreas de risco. Cientes muitos estão, mas o descaso e a falta de oportunidades são fatores que não estão ao alcance do professor resolver. É uma construção coletiva e organizada que faz a diferença. Creio que o professor é apenas um semeador de ideias e ações, mas quem deve regar, cuidar e fazer crescer estas ideias e ações é a sociedade como um todo.

Em discussões em sala de aula, chegou-se à conclusão de que nem sempre a culpa de um aluno ir mal numa disciplina é em decorrência ao mal preparo do professor ou falta de dedicação do aluno, mas por um conjunto de fatores que influenciam direta ou indiretamente na vida escolar do aluno. Essas tais discussões foram e estão sendo imprescindíveis para o entendimento do conteúdo e reflexão sobre a realidade em sala de aula, na escola, no bairro, na cidade, no estado federativo, no país, no continente e mundo.

É importante ainda mencionar a definição de profissionalidade, segundo SACRISTÁN (1999), aprendida na disciplina de Supervisão de Estágio III. Para Sacristán, profissionalidade é “(...) a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, diretrizes, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”. Para mim, que serei professor, é de grande valia entender que esta atividade profissional não deve ser exercida por qualquer um sem o devido preparo e, por isso, tem seu valor específico.

O ensino é uma prática social à medida que a relação professor/aluno reflete a cultura e os valores sociais em que estão inseridos. Dessa forma, o ensino e a educação são influenciados pela experiência cultural determinante do professor, que é quem ensina. Então podemos entender que faz parte da profissionalidade do professor os valores que carrega consigo e que, em maior ou menor grau, são transmitidos para os alunos ao longo da relação de ensino-aprendizagem. É quase impossível se ter um professor neutro ideologicamente, nas várias vertentes de ideias tais como: política, filosofia, modelo sócio-econômico, abordagem pedagógica, modelo científico, religião, princípios éticos, etc.

Porém, o professor não deve apresentar à classe somente aquilo que ele julga ser o correto e importante na formação do aluno, mas procurar expor o máximo possível das possibilidades que existem, sem super proteger as que julga ser melhores, dando ao aluno o ônus da escolha por si mesmo, através de uma análise própria. É importante o professor dar sua opinião acerca dos temas apresentados à classe, mas não deve coagir o aluno a pensar como ele pensa. Afinal, “cada cabeça, uma sentença”. Creio que é isso que acontece nas aulas de Supervisão de Estágio III, considerando a atitude do professor. Sigo esse exemplo e faço uma boa avaliação disso.

Porém, foi aprendido que, mesmo o professor tendo sua individualidade, está sujeito ao modelo curricular imposto, formulado fora do ambiente de sala de aula e da escola, onde não atendem, muitas vezes, à realidade do aluno. Isso torna o professor em um mero consumidor de práticas pré-estabelecidas sem vínculo com a realidade imediata. A autonomia do professor é ameaçada. Assim, é preciso compreender a chamada “irresponsabilidade” relativa do professor diante de situações problemáticas envolvendo o aluno e sua relação com a sociedade. Para que isso mude, ações envolvendo a opinião do professor devem ser consideradas. E, segundo o que foi aprendido, são divididas em quatro grandes áreas: 1. O professor e a melhoria/mudança das condições de aprendizagem e das relações sociais na sala de aula; 2. O professor participando ativamente no desenvolvimento curricular, deixando de ser um mero consumidor; 3. O professor participando e alterando as condições da escola; 4. O professor participando na mudança do contexto extra-escolar. Estas são propostas de Sacristán (1999).

A Estrutura Prático-Teórica da Profissionalidade nos fez refletir que existem escalas de articulação e independência funcional entre as componentes intelectuais e éticas. Isso é interessante saber porque a qualidade do profissional está diretamente relacionada com a capacidade dele extrair esquemas estratégicos de ideias mais gerais e de selecionar, combinar e criar esquemas práticos mais reais para desenvolver o esquema estratégico.

O recém-formado deve ter em mente que a escola é um ambiente reprodutor da sociedade em que está inserida, mas que também exerce influência na sociedade, ocorrendo um choque cultural e uma reprodução cultural ao mesmo tempo. Cabe ao professor consciente lutar contra as influências negativas do senso comum e procurar fazer sua parte na construção de uma sociedade diferente da atual. Mas o que é a parte do professor? É tudo aquilo que venha a subsidiar a mentalidade crítica do aluno a fim de que este seja, por sua vez, um agente multiplicador do conhecimento na sociedade em que está inserido, assim como é próprio do professor dar o exemplo, no cotidiano dentro e fora da sala de aula. As práticas concorrentes devem ser consideradas, mas analisadas sobre o porquê de serem inadequadas, segundo a concepção do professor.

A disciplina de Supervisão de Estágio como um todo me proporciona conhecer a realidade escolar, uma vez que o estágio me coloca em contato com este ambiente, que é o espaço de interação entre professores, alunos, funcionários da escola e estagiários. Em Supervisão III começo a ter contato com o Colégio Estadual João de Faria Pioli, Maringá - PR, o mesmo que estagiei em Supervisão I e II. Ter uma continuação do estágio neste colégio poderá ser uma vantagem, certo de que aprenderei mais detalhadamente o funcionamento dele e isso pode mudar a possível visão estereotipada que tive do mesmo. Isso está diretamente relacionado com a familiarização da profissão de professor.

Como havia escrito no começo deste texto, não basta apenas um bom currículo de disciplina para se formar um bom professor (no caso, de Geografia), pois são importantes também a dedicação do acadêmico frente aos estudos e, como poderia dizer... o “talento nato” do acadêmico para se expressar bem, de forma que o aluno compreenda o que se está querendo ensinar, dentre outros fatores de menor relevância. Me considero sem o tal “talento nato” para ensinar, mas vejo que isso pode ser trabalhado levando-se em consideração o uso de esquemas práticos criados previamente, experiências adquiridas ao longo do tempo, e domínio mais acurado do conteúdo. Isso minimiza a falta de “talento”, mas não o extingue. Posso mudar esta ideia, mas por enquanto é o que tenho em mente.

De modo geral, a disciplina de Supervisão de Estágio está me ajudando muito a dominar a arte de dar aulas, própria de profissionais que dominam o processo de ensino-aprendizagem de fato, os professores. Creio estar aprendendo bem o que me é transmitido como conhecimento e proposto para desenvolver.

Com a nota da autoavaliação valendo de 0 a 3.0, atribuo a nota 3.0 para o meu desempenho na disciplina de Supervisão de Estágio III. Visto que estive presente em todas as aulas; procurei prestar atenção nas explicações e ser participativo nos debates; considero ter aprendido suficientemente o conteúdo até aqui trabalhado, conforme procurei demonstrar neste texto; além de ter estudado algo além do que é aprendido na universidade e procurar fazer uma análise comparativa sobre as teorias pedagógicas, importantes para o processo de ensino-aprendizagem.

André Luiz Marques

Ps: Após ler e analisar este texto, o professor da disciplina manteve a nota máxima do trabalho, 3.0.
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