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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Sol se deteve em Josué 10:12, 13?

Por Leandro Quadros

Recebi uma pergunta interessantíssima de um internauta sobre o texto de Josué 10:12, 13, que diz o seguinte:

“Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel; e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no Livro dos Justos? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro”.

A pergunta é: “Se o que determina a mudança do dia é a rotação da Terra em torno de seu próprio eixo, como a Bíblia pode dizer que o Sol parou?”

É importante não esquecermos que “a Bíblia faz uso de uma linguagem comum, não técnica”, e que “o uso de uma linguagem não científica não vai de encontro à ciência, pois ela é anterior à ciência” (Norman Geisler e Thomas Howe, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia [São Paulo: Mundo Cristão, 1999], p.26).

A Bíblia foi escrita dentro dos padrões antigos de linguagem e segundo a compreensão científica que eles tinham naquela época. Julgar os autores bíblicos de “erro” é que é anticientífico, pois, avaliar uma linguagem popular tendo como base as descobertas científicas atuais, é um erro grosseiro e uma forma de preconceito para com aqueles que viveram noutra época diferente da nossa.

Se não esquecermos que a Bíblia é a perfeita palavra de Deus no imperfeito sotaque humano; e que “não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram”, (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 21), não teremos dificuldades em compreender esse texto de Josué 10, bem como Levítico 11:5,6, por exemplo, que afirma serem o arganaz e o coelho animais que “ruminam” (na verdade, eles não fazem isso. Porém, para quem observa, a impressão é que ruminam mesmo, devido à maneira como movem o queixo).

Atualmente, apesar dos avanços da ciência, cristãos, ateus, agnósticos, budistas, hinduístas, islâmicos (etc) se utilizam de descrições tecnicamente erradas mas que, mesmo assim, são adequadas. Por exemplo, ainda hoje dizemos que o Sol “nasce” e se “põe”, mesmo sabendo que esse astro não se move!

Se esse tipo de descrição não técnica é adequada hoje, por que não seria adequada nos tempos bíblicos? Desse modo, que padrão objetivo um ateu ou agnóstico possui para questionar a forma de expressão dos autores bíblicos? Com certeza, nenhum.

Finalizo com algumas citações de Ellen White que apresentam um conceito correto e equilibrado sobre a maneira como Deus inspirou os profetas, para que escrevessem as Verdades divinas na linguagem humana:

“A Bíblia foi escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e exprimir-se de Deus. Esta é da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha representado. Os homens dirão muitas vezes que tal expressão não é própria de Deus. Ele, porém, não Se pôs à prova na Bíblia em palavras, em lógica, em retórica. Os escritores da Bíblia foram os instrumentos de Deus, não Sua pena. Olhai os diversos escritores.

“Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos. As palavras, porém, recebem o cunho da mente individual. A mente divina é difusa. A mente divina, bem como Sua vontade, é combinada com a mente e a vontade humanas; assim as declarações do homem são a Palavra de Deus (Manuscrito 24, ano de 1886. Publicado em Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 21).

Isso está em perfeita harmonia com o que diz o apóstolo em 2 Pedro 1:19-21 sobre a dupla autoria da Bíblia (divina e humana):

“Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro [...] Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homensfalaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. (Nova Versão Internacional).

[Acesse facebook.com/NaMiradaVerdade.NT e leandroquadros.com.br/livros]

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Esfericidade da Terra: A Bíblia sempre teve a razão

Alguns dos slides usados em sala de aula para reflexão sobre a tradição humana sobre a concepção da Terra plana e a concepção da Bíblia sobre a esfericidade da Terra. A Bíblia sempre teve a razão.



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Geografia, Bíblia e desenvolvimento

Sem Geografia não há desenvolvimento. E sem a Bíblia muito menos (leia Isaías 40:22).

domingo, 18 de março de 2012

Vídeo sobre a criação mostrado aos meus alunos

Apresento algumas fotos que tirei das turmas de 6º Ano do Colégio Adventista de São José dos Pinhais assistindo um dos vídeos que passei para eles, que foi o vídeo da semana da Criação descrita na Bíblia e narrada por Cid Moreira (vídeo disponível logo abaixo). Foi mostrado para os alunos como introdução ao tema da Origem da Terra, tema em que vamos estudar as duas principais teorias que procuram explicar a origem da Terra e dos seus habitantes. Essa aula foi sobre a ótica criacionista e esse vídeo fez parte do argumento da fé do criacionismo. Para a parte da ciência, usei slides com conteúdo de evidências em favor do criacionismo bíblico (teoria da criação especial). Será passado tanto o modelo criacionista como o evolucionista, como fiz no ano passado com outros alunos. Ensino as duas teorias de forma comparativa e por meio de um senso critico que procuro instigar os alunos. Não os forço a serem criacionistas, mas me posiciono como criacionista, expondo os argumentos da fé e da ciência para isso. A conclusão e decisão cabe a eles. [ALM]

Assista ao mesmo vídeo:

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Gênesis 15:5

Que possamos contemplar o Universo de estrelas, planetas e demais obras que foram criadas por DEUS, incluindo nossa pequenina Terra! Que ELE te abençoe!

domingo, 8 de janeiro de 2012

A bússola do cristão

Jesus é o centro da Bíblia, e a Bíblia é a "bússola" que nos orienta para permanecermos nos caminhos de Deus, rumo à Canaã Celestial.



quarta-feira, 16 de março de 2011

Sinais do fim – todos de uma vez

Quando são mencionados os sinais da volta de Jesus, algumas pessoas respondem mais ou menos assim: “Terremotos, fome e violência sempre existiram.” É verdade, muitas dessas mazelas sempre existiram, desde que Adão e Eva foram expulsos do paraíso após desobedecerem a Deus. Ao que tudo indica, terremotos são efeitos secundários do dilúvio, que causou a fragmentação da crosta terrestre em grandes placas mais ou menos instáveis. O que muitos não estão se dando conta é da intensidade e ocorrência simultânea de todos os sinais numa mesma época. É como as dores do parto que vão se tornando mais intensas e sentidas a intervalos cada vez menores à medida que vai chegando o momento de dar à luz. Jesus breve voltará para dar fim à história de pecado e para enxugar dos olhos toda a lágrima (Ap 21:4).

A Revista do Ancião (CPB) de abril-junho de 2011 traz um esboço de sermão interessante preparado por Frank Breaden, da Austrália. O título é “Dez Grandes Sinais da Volta de Jesus”. Confira a lista:

1. O sinal dos “escarnecedores” (2Pe 3:3, 4). Pedro anunciou que as condições prevalecentes nos “últimos dias” seriam de descrença a respeito dos sinais da vinda de Cristo. Sem dúvida, isso é verdade hoje. Cada escarnecedor moderno é um sinal que fala e se move. O cristão pode dizer ao escarnecedor: “Amigo, Pedro fez uma predição a seu respeito. Você é um dos últimos sinais que estou vendo!”

2. O sinal da “guerra” (Mt 24:6, 7). O século 20 testemunhou as duas maiores guerras da história (1914-1918; 1939-1945). No total, mais de 70 milhões de pessoas morreram, ficaram feridas ou desapareceram). O século 20 foi o mais sangrento já registrado. [E as guerras continuam...]

3. O sinal da “fome” (Mt 24:7). Os últimos cem anos testemunharam quatro das maiores fomes de toda a história (Rússia 1921, 1933; China 1928-1930; Bangladesh 1943-1944. Estima-se que cerca de 20 milhões de pessoas morreram). [Leia mais aqui.]

4. O sinal da “pestilência” (Mt 24:7). O século passado testemunhou também uma das maiores pestilências de toda a sua história (“Gripe Espanhola” de 1918. Estima-se 21 milhões de vítimas). [Isso sem contar o iminente risco da superbactéria.]

5. O sinal dos “terremotos” (Mt 24:7). O último século ainda testemunhou dois dos maiores terremotos da história (China, 1920, 180 mil mortos; Japão, 1923. Total de feridos 1,5 milhão, dos quais 200 mil morreram). O terremoto no Japão foi descrito na ocasião como a “maior catástrofe desde o dilúvio”. [Faltou mencionar os terríveis terremotos do Haiti, no ano passado, e o quarto maior terremoto da história, ocorrido neste mês, no Japão, com intensidade máxima de 9 graus na escala Richter.]

6. O sinal dos “tempos difíceis” (2Tm 3:1-3). A despeito dos equipamentos mais engenhosos e caros para combater o crime, a violência, assassinato, roubo e estupro, estes estão aumentando em proporções alarmantes. Os governos podem restringir, mas não eliminar esses problemas.

7. O sinal do “temor” (Lc 21:25-26). Desde o advento da bomba nuclear, nosso sonho de paz e segurança se transformou em terrível pesadelo, quando o grande conhecimento que os seres humanos adquiriram deveria lhes garantir segurança. [O terrorismo crescente também gera medo.]

8. Sinal dos “Dias de Noé” (Mt 24:37-39). Nos dias de Noé, o avanço e grande conhecimento da civilização foram ofuscados pela violência desenfreada e pela escandalosa imoralidade. O mesmo ocorre hoje. [Mundo torto.]

9. O sinal do “evangelho” (Mt 24:14). Durante os últimos anos, por meio da página impressa, da internet, rádio e televisão, a pregação do evangelho em escala mundial se tornou uma possibilidade real. Um único homem pode atingir uma audiência de dezenas e mesmo centenas de milhões de pessoas! A Bíblia está traduzida em mais de 1.300 línguas e é distribuída a uma média de 100 milhões de cópias por ano.

10. O sinal “estas coisas” (Lc 21:28-32). Quando confrontadas com a impressiva relação de sinais, algumas pessoas argumentam: “Mas crimes, guerras, terremotos e pestilências sempre ocorreram. Não há nada de anormal nisso; portanto, como tratá-las como sinais? Além do mais, pessoas sinceras no passado esperaram a volta do Senhor em seus dias e foram desapontadas. Elas interpretaram mal os sinais. Não poderíamos estar cometendo o mesmo equívoco?” Aqueles que levantam essa objeção deixam de considerar uma diferença muitíssimo significativa entre a nossa geração e as gerações passadas: hoje, pela primeira vez, desde que Jesus ascendeu ao Céu, todos os principais sinais preditos para o tempo do fim estão sincronizados! Um ou mais desses sinais podem ter ocorrido nas gerações passadas, mas nunca todos eles ocorreram simultaneamente, como vemos hoje!

Conclusão

1. Jesus nunca nos pediu que crêssemos na proximidade de Sua vinda com base apenas em um sinal. Um floco de neve não provoca uma avalanche. Mas quando todos os sinais rapidamente se multiplicam, dando assim seu testemunho acumulado, se transformam em uma avalanche de irresistível poder. Portanto, inequivocamente esses sinais da vinda de Cristo não deixam margem para que pessoas inteligentes deixem de reconhecê-los. São tão claros como se Deus estivesse falando por intermédio dos trovões ou se estivesse escrevendo em letras gigantescas no céu!

2. Por que você imagina que Deus nos deu a oportunidade de ouvir essas maravilhosas boas-novas? Para que pudéssemos “discernir os sinais dos tempos” e estar prontos para receber Jesus com avidez e alegria.

3. Lucas 21:28: “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça; porque a vossa redenção está próxima.”

Fonte: Criacionismo

Nota deste blog: Estou apresentando, esta semana, aulas sobre os terremotos e tsunami ocorridos no Japão, explicando para os alunos do colégio adventista que trabalho o por que ocorrem estes fenômenos (a partir da tectônica de placas), como tema e maior parte da explicação na aula, e apresentando isto posteriormente como exemplo dos sinais da breve volta de nosso Salvador, Jesus Cristo. Um gráfico oficial apresentado pelo Michelson Borges em seu blog está sendo bastante útil para eu mostrar aos alunos que a intensidade e magnitude dos terremotos vêm aumentando nos últimos dez anos, em relação aos últimos cem anos. Uma curva ascendente que evidencia, para quem crê na Bíblia, a iminência da segunda vinda de Jesus, para nos livrar do sofrimento e morte contidos neste mundo carcomido pelo pecado (sendo que aqueles são consequências deste). Isto, somado aos outros sinais, deveria fazer toda a humanidade refletir melhor na Palavra de Deus... E como o Michelson bem lembrou acima, citando Lucas 21:28, “Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai a vossa cabeça; porque a vossa redenção está próxima”. Breve Jesus Voltará! [ALM]


Para assistir, na TV Novo Tempo, o debate ao vivo anunciado acima, clique aqui.

sábado, 5 de março de 2011

A Bíblia é a Palavra de Deus? (Parte 1/2)


Algumas das evidências da confiabilidade científica da Bíblia. Veja, a Bíblia não é um livro de ciências, mas quando cita algo científico, nunca erra.

Você poderia pensar: "Mas e passagens bíblicas como aquela de Josué 10:13, não são erros científicos da Bíblia?" Bom, aquele texto, então, está tão errado como quando cientistas dizem que o Sol se põe no horizonte, a Oeste, ou nasce a Leste, como já li em livros didáticos de Geografia conceituados. Ora, sabemos que o Sol não nasce e não se põe, é a Terra que gira entorno do próprio eixo, dando tal impressão. Isso é uma força de expressão sobre o que está sendo observado, para melhor compreensão. Da mesma forma, Josué não estava preocupado com o fato científico em si, mas em descrever poeticamente a ajuda de Deus para vencer a batalha. Questão de bom senso para compreender aquela e outras passagens. A Bíblia não diz nada sobre Geocentrismo e nem de Heliocentrismo. Lembrando que muitos cristãos do passado acreditavam no Geocentrismo por causa de influência da cultura pagã. A Bíblia não tem nada que ver com isso.

Parte 2, aqui.

André Luiz Marques

sexta-feira, 4 de março de 2011

Torre de Babel: mito ou verdade?

Um dos primeiros arranha-céus da história da humanidade é uma torre construída na Idade da Pedra Polida (9000 a.C. a 4500 a.C.), descoberta em 1952, em Jericó, na Palestina. Até janeiro deste ano era praticamente unanimidade no mundo arqueológico que aquela construção de 8,5 metros teria sido erguida para servir ao povo de proteção contra invasões e espaço de observação de astros e estrelas. Um artigo publicado pela dupla de pesquisadores Roy Liran e Ran Barkai, da Universidade de Tel Aviv, no mês passado, porém, acena para a possibilidade de que a edificação teria sido utilizada para prever catástrofes naturais – inundações, no caso – e abrigar os sacerdotes, na época os reis, contra elas. Essa nova luz lançada sobre a Torre de Jericó abriu uma discussão sobre a veracidade de uma passagem bíblica: a existência ou não da Torre de Babel. É consenso entre pesquisadores que a civilização começou na Mesopotâmia, hoje Iraque, na região conhecida como Crescente Fértil. Ali, teriam sido inventadas a roda, a escrita e a agricultura. Autor da teoria da revolução neolítica (a Idade da Pedra também é conhecida como Período Neolítico), o filólogo australiano especializado em arqueologia Vere Gordon Childe (1892-1957) afirma que essas transformações ocorreram por conta de profundas mudanças climáticas na Era Glacial que obrigaram o povo a migrar, vindo do Oriente, para aquela região entre os rios Tigre e Eufrates. Jericó seria uma espécie de neta da Mesopotâmia, para onde algumas pessoas migraram, fundando um dos assentamentos urbanos mais antigos da Terra fora do Crescente Fértil. Elas teriam chegado lá trazendo na memória um trauma de seus ascendentes, a catástrofe diluviana. [A teoria chega perto da realidade.]

Naquela época, seca, terremotos ou meteoros não amedrontavam a população, de acordo com o especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém Rodrigo Pereira da Silva. Uma grande inundação, um dilúvio, era a catástrofe que se temia. “Quando um povoado fundava novas civilizações, erguer uma torre era um procedimento-padrão. Além de funções religiosas, a construção servia para que se escapasse de novas inundações”, diz Silva. Atualmente, já foram encontradas 31 ruínas de torres na Mesopotâmia. A de Jericó é a única naquela cidade. E o muro em torno dela está estruturado como uma espécie de dique. “A fundação das cidades está diretamente ligada à construção de torres e ao medo de um dilúvio. Isso é claro na arqueologia”, reforça o especialista.

A literatura bíblica relata que um grupo de pessoas vindo do Oriente habitou um vale em Sinar, hoje Iraque, e ergueu uma torre. Está em Gênesis capítulo 11. Para punir a ousadia desses humanos que queriam tocar os céus, Deus fez com que eles falassem idiomas diferentes, tornando impossível a comunicação entre eles e os obrigando a migrar para outros lugares da Terra. Babel, em hebraico, significa confundir. A Torre de Babel, portanto, seria uma representação do episódio da confusão das línguas patrocinado por Deus. Um tablete de argila com escrita cuneiforme – um dos primeiros textos da humanidade, datado de 2500 a. C., encontrado no Iraque e traduzido em 1872 – traz um relato controvertido que parece ser um paralelo à história bíblica da Torre de Babel: “...seu coração se tornou mal... Babilônia submeteu os pequenos e os grandes. Ele (uma divindade) confundiu seus idiomas... o seu lugar forte, que por muitos dias eles edificaram, numa só noite ele trouxe abaixo.”

Outro texto cuneiforme, produzido em cerca de 2200 a.C. e publicado em 1968, faz menção de uma época em que havia “harmonia de idiomas em toda Suméria” e os cidadãos “adoravam ao deus Enlil numa só língua... o deus Enki, senhor da abundância... e o líder dos deuses... mudou a linguagem na sua boca e trouxe confusão a eles. Até então, a linguagem dos homens era apenas uma”. A Bíblia, portanto, seria um elo entre a história da Torre de Jericó e as construções anteriores na Mesopotâmia. “Há elementos históricos para supor que algum tipo de dilúvio de proporções catastróficas ocorreu de fato, assim como uma Torre Babel”, diz o arqueólogo Silva, que leciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). “A história da Bíblia tem plausividade arqueológica e histórica.”

Professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese argumenta que a veracidade bíblica não se sustenta pela ciência, mas pela fé. Para ele, um especialista em história das religiões, o autor de Gênesis, diante da multiplicidade de línguas e com os olhos repletos de religiosidade, lançou mão de uma narrativa que passa pela realidade para entender o mundo que o cercava. “Não estou invalidando o discurso bíblico, mas prefiro seguir a linha de pensamento dos teólogos alemães da primeira metade do século XIX. Influenciados pelo racionalismo, eles acreditam que o dilúvio, a Torre de Babel, Caim e Abel, Adão e Eva são formas de exprimir um Deus agindo do ponto de vista literário.” [Chevitarese prefere ficar com a escola teológica alemã de dois séculos atrás a se render aos fatos da arqueologia.]

O novo propósito atribuído à construção da Torre de Jericó pela dupla Liran e Barkai, da Universidade de Tel-Aviv, publicado na conceituada revista inglesa de arqueologia Antiquity, aproxima o contexto cultural com a Torre de Babel bíblica e abre espaço, se não para a certeza, para a possibilidade histórica de uma passagem das Sagradas Escrituras.

Fonte: IstoÉ

Lido em: Criacionismo

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

National Geographic e as controvérsias arqueológicas

A revista National Geographic deste mês apresenta o cenário belicoso que há entre duas correntes arqueológicas: os que procuram negar a historicidade dos relatos bíblicos e os que tentam confirmá-los. A reportagem de capa merece ser lida pela riqueza de detalhes com que trata o assunto e pelo relativo equilíbrio entre os "dois lados" da história. Isso deveria ser imitado pelas populares revistas brasileiras de divulgação científica que frequentemente pecam pela superficialidade e partidarismo.

O texto na Nation
al Geographic trata principalmente da descoberta feita em 2005 pela arqueóloga Eilat Mazar. Na época, ela anunciou que provavelmente havia descoberto o palácio do rei Davi. "Foi como se fizesse veemente defesa de uma proposição da velha escola de arqueologia que está sob ataque há mais de um quarto de século: a ideia de que a descrição bíblica do império fundado por Davi e levado adiante por seu filho Salomão é historicamente exata", diz a revista. "A contundente declaração de Eilat deu força àqueles cristãos e judeus do mundo todo para quem o Antigo Testamento pode e deve ser interpretado ao pé da letra." [Bem, a questão aqui não é de interpretação, como se verá mais adiante, mas de confirmação do pano de fundo histórico de um período descrito pela Bíblia.]

A crítica é mesmo antiga: arqueólogos minimalistas afirmavam que o império de Davi e Salomão jamais havia existido, pois aparentemente não há evidências de construções na região. Até que Eilat divulgou seu achado. A fim de desacreditar a descoberta, houve até ataques pessoais (ad hominem): críticos ressaltaram que as escavações da arqueóloga foram financiadas por duas organizações, a Fundação Cidade de Davi e o Centro Shalem, dedicadas a reivindicar direitos territoriais para Israel. "E zombam porque ela usa os métodos antiquados de antepassados arqueólogos, como os do avô, que não se constrangia em trabalhar com a pá numa mão e a Bíblia na outra", diz a matéria. Note que os ataques são dirigidos à fonte de financiamento da pesquisa e aos métodos da arqueóloga, e não necessariamente à descoberta dela.

A matéria prossegue: "A prática antes comum de usar o livro sagrado como guia arqueológico é contestada por ser um raciocínio circular, anticientífico - e quem mais se empenha contra ela é o questionador-mor da Universidade de Tel-Aviv, Israel Finkelstein, que dedicou a carreira a demolir estrondosamente hipóteses desse feitio. Ele e outros proponentes da ‘baixa cronologia' afirmam que o peso das evidências arqueológicas em Israel e seu entorno indica que as datas postuladas pelos estudiosos da Bíblia estão antecipadas em um século. As construções ‘salomônicas' escavadas por arqueólogos bíblicos ao longo de várias décadas recentes em Hazor, Gezer e Megiddo não foram erigidas no tempo de Davi e Salomão, argumenta ele; portanto, devem ter sido construídas por reis da dinastia Omride, no século 9 a.C., bem depois do reinado de Salomão."

Se acusam Eilat de ter interesses "escusos" e usar a Bíblia como documento histórico orientador de pesquisa, por que não lembram que Finkelstein é crítico ferrenho de tudo que "cheira a Bíblia"? É só notar a ferocidade da seguinte declaração dele: "É claro que não estamos olhando para o palácio de Davi! Tenha a santa paciência. Tudo bem, eu respeito seus [de Eilat] esforços. Gosto dela, é uma senhora simpática. Mas essa interpretação é, como direi?, um tanto ingênua."

Finkelstein deve estar ainda mais irado, pois agora, segundo a National Geographic, é a teoria dele que está no paredão. "Logo depois que Eilat declarou ter descoberto o palácio do rei Davi, dois outros arqueólogos revelaram achados notáveis. Trinta quilômetros a sudoeste de Jerusalém, no vale de Elah - justamente onde a Bíblia diz que o jovem pastor Davi matou Golias -, o professor Yosef Garfinkel, da Universidade Hebraica, afirma ter escavado o primeiro trecho de uma cidade judaica datada da época exata em que Davi reinou. Enquanto isso, 50 quilômetros ao sul do Mar Morto, na Jordânia, um professor da Universidade da Califórnia em San Diego, Thomas Levy, passou os últimos oito anos escavando uma grande mina e fundição de cobre em Khirbat en Nahas. Segundo Levy, um dos mais importantes períodos de produção de cobre nesse sítio foi no século 10 a.C. - época em que, segundo a narrativa bíblica, os edomitas, antagonistas de Davi, ocupavam a região (estudiosos como Finkelstein, todavia, garantem que o reino de Edom surgiu apenas dois séculos depois). A própria existência de uma mina e fundição de cobre dois séculos antes do período em que o grupo de Finkelstein aponta como o do surgimento dos edomitas indicaria que havia atividades complexas bem no tempo em que Davi e Salomão reinaram. ‘É possível que isso tenha pertencido a Davi e Salomão', analisa Levy sobre sua descoberta. ‘Porque a escala da produção de metal aqui é, de fato, a de um Estado ou reino antigo.'"

E as evidências? A revista informa que Levy e Garfinkel têm as pesquisas subvencionadas pela National Geographic Society e baseiam suas afirmações em uma profusão de dados científicos, entre eles fragmentos de cerâmica e datação por radiocarbono de caroços de azeitona e tâmara encontrados nos sítios. "Se as evidências de suas atuais escavações se sustentarem, a posição dos peritos de outrora que apontavam a Bíblia como um relato preciso da história de Davi e Salomão pode ser confirmada. Como diz Eilat Mazar com visível satisfação: ‘É o fim da escola de Finkelstein.'"

A reportagem apresenta outras evidências que corroboram as conclusões de Garfinkel - como centenas de ossos de boi, cabra, ovelha e peixe, mas nenhum osso de porco, o que sugere que judeus, e não filisteus, devem ter vivido ali. Tudo isso foi encontrado abaixo de uma camada do período helenístico. E tem mais: a equipe do arqueólogo topou também com um achado raríssimo, um caco de vasilha de cerâmica com inscrições que parecem ser em uma escrita protocananita contendo verbos característicos do hebraico. A conclusão parece óbvia: ali estava uma complexa sociedade judaica do século 10 a.C, do tipo que os defensores da baixa cronologia, como Finkelstein, afirmam que não existe.

Luiz Gustavo Assis é teólogo e trabalhou como auxiliar de pesquisa no Museu de Arqueologia Bíblica Paulo Bork, localizado no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Para ele, Finkelstein não é o único com uma visão negativa a respeito da historicidade do relato bíblico. "Nos anos 1990, diversos teólogos e historiadores de universidades europeias publicaram obras extremamente belicosas contra a Bíblia Hebraica, como Thomas L. Thompson, Niels-Peter Lemche e Philip Davies. Esses são alguns dos nomes que compõem a Escola de Copenhagen, ou os chamados minimalistas, aqueles que desconsideram a Bíblia como um documento com informações históricas precisas", informa Luiz.

Segundo o teólogo, não é preciso ter motivação religiosa para questionar as abordagens e conclusões desses autores, muitas vezes baseadas no silêncio de fontes arqueológicas. Luiz cita o agnóstico William G. Dever, autor do livro What did the Biblical Writers Know & When did They Know It?. Dever ataca ferozmente o niilismo por detrás dessa postura displicente de se encarar a história de Israel. "Dever não é um anônimo ou um novato no assunto", diz Luiz. "Sua carreira como arqueólogo já passa dos 30 anos. Seu nome é tremendamente respeitado nos círculos acadêmicos quando o assunto é arqueologia siro-palestinense ou bíblica. Como um cético, ele não acredita em tudo o que o livro sagrado dos judeus diz, mas sua opinião é honesta: há informação histórica digna de crédito para se estabelecer uma parte da história de Israel."

Finkelstein e outros que afirmavam não existir evidência de atividade escribal em Canaã antes do século 9 a.C. teve novamente que engolir a língua com a descoberta de um caco de cerâmica com aproximadamente 15 cm. O ostracon contém uma inscrição que data do 11º século a.C. e foi descoberto no sítio arqueológico de Khirbet Qeyafa. "Não se trata de uma aglomerado de palavras desconexas", explica Luiz. "É um texto que faz menção de um juiz (shaphat), rei (melekh) e escravos (‘eved)." "Quando Frank Moore Cross - um dos principais especialistas em inscrições proto-cananitas de Harvard - examinou o ostracon e a inscrição, ele ficou duas noites sem dormir", disse Lawrence Stager, professor de Arqueologia Bíblica em Harvard.

Ainda segundo a reportagem da National Geographic, para os arqueólogos minimalistas, Davi e Salomão foram simplesmente personagens fictícios. No entanto, a credibilidade dessa posição foi solapada em 1993, quando uma equipe de escavação no sítio de Tel Dan, no norte de Israel, descobriu uma estela de basalto negro com a inscrição "Casa de Davi" (para maior compreensão do que significa a expressão "Casa de Davi", consulte a obra Escavando a Verdade, do Dr. Rodrigo Silva). Mas, como a Bíblia não pode ser usada como documento histórico, os minimalistas ainda afirmam que a existência de Salomão continua carente de comprovação.

O que Levy escavou em Khirbat en Nahas pode ainda dar muita dor de cabeça para Finkelstein e a escola da baixa cronologia. National Geographic compara: "As minas de cobre de Levy talvez não sejam tão sensacionais quanto o palácio do rei Davi ou o mirante com vista para a batalha entre Davi e Golias. Mas as escavações de Levy abrangem mais tempo e área que as de Eilat Mazar e Yosef Garfinkel, e fazem uso bem mais amplo da análise por radiocarbono para determinar a idade das camadas estatigráficas de seu sítio."

A revista expõe a virulência de Finkelstein, que zomba das descobertas de Garfinkel em Khirbet Qeiyafa: "‘Você nunca vai me pegar dizendo ‘achei um caroço de azeitona num estrato em Megiddo, e esse caroço - contrariando centenas de outras datações por carbono 14 - vai decidir o destino da civilização ocidental.' Ele para de falar de repente e solta uma risada sarcástica. E a ausência de ossos de porco, sugerindo que o sítio é judeu? ‘Um dado, mas não conclusivo.' E a inscrição rara encontrada no sítio? ‘Provavelmente da cidade filistina de Gath, não do reino de Judá.' [...] A hipótese de que uma sociedade complexa do século 10 a.C. possa ter existido nos dois lados do rio Jordão pôs na defensiva a posição de Israel Finkelstein sobre a era de Davi e Salomão. Seus muitos artigos de réplica e seu tom sarcástico refletem essa defensiva, e com argumentos que, não apenas para seus desafetos, muitas vezes parecem apelativos."

Rodrigo Pereira da Silva é professor de teologia no Unasp, doutor em Teologia, especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutorando em Arqueologia pela USP (além de autor do livro recomendado acima). Ele conhece pessoalmente grande parte dos nomes citados na matéria da National Geographic. Já conversou com Filkelstein, foi aluno de Garfinkel (na verdade, sua primeira experiência arqueológica foi sob seu comando, em Shaar ha Golan). Para Rodrigo, o mérito e o diferencial dessa reportagem consistiram em mostrar que, para os arqueólogos, o assunto da historicidade bíblica está dividido. Ele diz: "Antes os artigos deixavam o leitor com a impressão de que todos os arqueólogos sérios e profissionais questionavam a Bíblia e apenas os leigos ou pseudo-arqueólogos (como Erich von Däniken ou Werner Keller) endossavam o texto bíblico com suas pesquisas particulares que não receberiam a chancela de nenhuma universidade."

Segundo Rodrigo, essa situação de polêmica "felizmente fez surgir as figuras de Eilat Mazar e Garfinkel, que têm autoridade acadêmica para discordar de arqueólogos minimalistas como os que, via de regra, desfilam nas páginas de revistas populares como a National, a Superinteressante ou a Época".

Rodrigo faz ainda duas observações com respeito à reportagem:

1. Quando o texto diz: "Há um probleminha: os arqueólogos, depois de procurar exaustivamente por décadas, não encontraram nenhum indício confiável de que Davi ou Salomão tenham construído qualquer coisa", deixa os leitores leigos com uma impressão distorcida da pesquisa de campo em arqueologia. "Posso afirmar que 80% ou 90% da história antiga geral (i.e. não bíblica) não pôde ser ‘confirmada' por escavações arqueológicas. Terremotos, guerras, roubos, ações do tempo, construção de novas metrópoles, etc., puseram a termo ou sepultaram para sempre monumentos e artefatos da antiguidade. Isso não acontece só com a Bíblia, mas com a história em geral. Não há, por exemplo, nenhuma prova arqueológica segura da presença dos imensos exércitos de Alexandre, o Grande, na Índia; o que temos são relatos tardios, escritos 300 anos depois da morte dele (cf. As Vidas Paralelas de Plutarco), e cujos originais também se perderam (o que nos restam são cópias ainda mais tardias)."

Curiosamente, no entanto, poucos historiadores questionam a presença alexandrina desde a Macedônia até as terras indianas. "Ora, se o critério da dúvida, tão advogado em relação à Bíblia, fosse aplicado à história em geral, teríamos que duvidar quase da totalidade do que os livros didáticos nos apresentam. Mesmo na história mais recente, onde estão (arqueologicamente falando) as provas de que Colombo desembarcou nas Antilhas em 1492 ou de que a primeira missa no Brasil foi realizada em Porto Seguro, pouco tempo depois do descobrimento? A resposta é: não há nenhum indício confiável de qualquer desses eventos. Vamos duvidar deles também? Com exceção das pirâmides do Egito e de uns poucos fragmentos do mausoléu de Halicarnasso, onde estão as provas de que as sete maravilhas do mundo antigo de fato existiram?", questiona Rodrigo.

2. Para o professor do Unasp, o tom zombeteiro sobre arqueólogos como os falecidos Yadin, Albright e o renomado Benjamim Mazar (avô de Eilat), que escavavam, como diz o artigo, "com a pá numa mão e a Bíblia noutra", parece o argumento do espantalho, para usar um exemplo de falácia. "Em primeiro lugar", diz Rodrigo, "esses foram alguns dos mais respeitados e renomados arqueólogos de todos os tempos. Ademais, Albright vinha de uma escola humanista que não aceitava certos aspectos da teologia cristã; suas afirmações em relação à Bíblia, portanto, eram baseadas nos fatos e não em suas predisposições ou convicções pessoais." Rodrigo cita também H. Schelermann, que usou justamente um texto antigo (a Ilíada de Homero) como uma espécie de "mapa" para encontrar Troia. E ele a encontrou. "Não creio que a valorização do texto antigo (como é o caso da Bíblia) seja algo anticientífico ou ultrapassado. E não se trata, como diz o artigo, de ‘literalizar' cada frase da Bíblia Sagrada. Eu, pelo menos, não acredito na inerrância do texto bíblico, mas isso não nega que ele esteja descrevendo uma história real."

Luiz Gustavo Assis lembra que a arqueologia tem limites. Existe a confirmação histórica da existência de Davi, feita por Avraham Biran, em 1993, e agora a provável identificação do sítio arqueológico mencionado na famosa história da batalha de Davi contra o filisteu Golias. No entanto, nenhum desses achados prova que o gigante foi morto com uma pedra de funda! Provavelmente jamais seja encontrado documento com uma inscrição como essa. No entanto, a credibilidade histórica da Bíblia não está no vácuo. Existe um terreno sólido sobre o qual o leitor pode caminhar.

(Michelson Borges)

Fonte: Outra Leitura

Nota Outra Leitura: O arqueólogo Michael Hasel está trabalhando com Garfinkel. Clique aqui para ler o artigo que ele publicou sobre o assunto, neste ano, na Adventist Review. E este é o site oficial com a história da descoberta do ostracon: http://qeiyafa.huji.ac.il/ostracon.asp



terça-feira, 19 de outubro de 2010

A palavra "terra" em Gênesis 1:1

Niels-Erik Andreasen - professor de Antigo Testamento na Universidade de Loma Linda, Califórnia, U.S.A.

Afirma Gênesis 1:1 que tanto a vida como a matéria inorgânica foram criadas simultaneamente, ou que, embora a vida seja bastante recente, a matéria inorgânica poderia ter existido muito tempo antes da semana da criação? O autor examina as dificuldades envolvidas na tradução da palavra terra a partir do texto hebraico.

A frase inicial do Velho Testamento é bela em sua simplicidade - “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Até mesmo uma criança pode entendê-la, mas apesar disso cada uma das palavras dessa frase tem sido objeto de interpretação discordante (1). A palavra “terra”, ora em discussão, não constitui exceção. A questão consiste em saber se ela se refere:

a - À matéria que fisicamente compõe a terra (2),
b - Ao planeta Terra como parte do sistema solar (3), ou
c - À terra no sentido do solo sobre o qual a vida pode existir (4).

Abordaremos a questão de forma sucinta, analisando quatro problemas. Primeiro, examinaremos o significado e o uso da palavra “terra” (em Hebraico ‘erets). Em segundo lugar, consideraremos a palavra no contexto de Gênesis 1:1. Em terceiro lugar, examinaremos o problema de Gênesis 1:2. Finalmente, procuraremos verificar qual é a concepção bíblica do mundo físico que este versículo exprime.

A Palavra “terra”

A palavra hebraica da qual nossa palavra portuguesa “terra” é traduzida em Gênesis 1:1 (“No princípio criou Deus os céus e a terra”) é ‘erets, entendida de maneira geral como terra no sentido de solo, mundo, ou algo semelhante. Poderemos ser mais específicos quanto ao seu significado? Para responder uma questão como esta, o intérprete comumente começa a procurar o significado da raíz da palavra, examinando-a no seu contexto geográfico, no caso, o Oriente Próximo.

A palavra egípcia mais comum para “terra”, no sentido de mundo ou terreno, tem vários significados, abrangendo desde “mundo”, “poeira”, “sujeira”, e “solo”, até “terreno”, “nação”, e “país”(5). Ela ocorre também com a palavra que designa “céu”, formando assim um par de palavras que indica o cosmos deificado. Infelizmente não é possível determinar qual dos significados é o original (6).

A língua acádica da antiga Mesopotâmia empregava diversas palavras para “terra”, das quais uma, eresetu, claramente se relaciona com o hebraico ‘erets (7). Ela é usada em conjunto com a palavra samu (“céu”) para formar a dupla usual “céu e terra” significando o mundo todo, ou mesmo o universo. De maneira bastante interessante ela também se refere ao mundo inferior, a terra da qual não há retorno, e menos freqüentemente à terra ou território de um governador. Finalmente, ela significa “solo”, a matéria que pode ser arada, encharcada de sangue, e usada para sepultura.

Os dialetos semíticos de Canaan e da Fenícia relacionam-se intimamente com a língua hebraica. Em ugarítico ‘rs significa “terra” (8), e novamente se coloca em antítese a céu e núvens, indicando a esfera da vida humana. Em diversas ocasiões esta palavra especifica o chão sobre o qual se cai, sobre o qual chove, e do qual procedem as colheitas (9). Finalmente, a palavra aparece na inscrição de Mesa (a Pedra Moabita) significando “terra” (“Chemosh está irado com a sua terra”) (10).

Estas ilustrações poderiam multiplicar-se, sem que o quadro final se alterasse significativamente - a palavra “terra”, relacionada com o hebraico ‘erets, era usada comumente no Oriente Próximo com os significados de “mundo”, “solo” e “terra”. Somente o contexto indicará se a referência é feita ao mundo todo (que chamamos de “planeta”), à superfície do planeta, na qual se manifesta a vida, ou a uma porção de terreno nessa superfície.
O hebraico ‘erets (“terra”) ocorre mais de 2500 vezes em hebraico (ou aramaico) no Velho Testamento. O exame de todas essas passagens, ou mesmo de uma boa parte delas, foge ao escopo deste ensaio. Não obstante, mesmo uma olhadela rápida mostrará que o seu significado varia no Velho Testamento da mesma forma que fora dele, e que ela inclui a idéia de “planeta terra”, “superfície da terra”, e “porção de terra”.

Desta forma, ‘erets refere-se a toda a terra (ou ao planeta, como diríamos), por exemplo em expressões tais como “o Deus do céu e da terra” (Gênesis 24:3), “Criador dos céus e da terra” (Gênesis 14:19, 22, traduzido na versão Almeida nova como “Deus altíssimo que possui os céus e a terra” ), e “o céu é Meu trono e a terra o estrado de Meus pés” (Isaias 66:1). Isto não significa que a terra sempre tenha sido entendida como sendo uma esfera, como hoje. Da mesma forma, ela é descrita (poeticamente) como tendo quatro cantos (Isaias 11:12, na versão Almeida nova “quatro confins da terra”) e extremidades ou fins (Isaias 40:28). É dito também que ela tem um centro, literalmente um umbigo (Ezequiel 38:12), e que ela pode tremer e abalar-se (Salmo 18:7), e cambalear como um bêbedo (Isaias 24:19 e versos seguintes).

Em segundo lugar, além da divisão do mundo em duas partes, o céu e a terra (planeta), aparece também na Bíblia uma divisão em três partes. O céu está acima, a terra abaixo, e entre eles a porção de terra seca (Êxodo 20:4, Salmo 135:6). Nestes casos ‘erets (“terra”) refere-se somente à superfície seca, ou a terra onde vivem os seres (“terra dos viventes” - Salmo 52:5; Isaias 38:11). Na realidade ela provê também a sepultura para os mortos (Isaias 26:19 - “a terra dará à luz os seus mortos”; Ezequiel 31:14 - “... estão entregues à morte, e se abismarão às profundezas da terra, no meio dos filhos dos homens, com os que descem à cova”). Além disso, o pó e a cinza fazem parte dela, bem como as regiões desérticas (Deuteronômio 28:23-24 - “a terra debaixo de ti ... pó e cinza”; 32:10 - “terra deserta”; Salmo 107:34 - “deserto salgado”; Jeremias 2:6 - “terra de ermos ... e sequidão”). Desta forma, não só a superfície da terra que mantém a vida, mas várias partes específicas suas são indicadas pela palavra ‘erets. Uma pessoa pode ser encravada nela (I Samuel 26:8 - “encravá-lp com a lança ao chão”), e o sangue pode ser nela derramado (I Samuel 26:20 - “não se derrame o meu sangue longe desta terra”). Neste ponto ‘erets recebe uma acepção afim à de ‘adama (“chão”, “solo”, “terra”) (11), sendo porém precipuamente o chão sobre o qual pode se manifestar a vida (Gênesis 1:11 e seguintes - “...produza a terra relva ... ervas que dêem semente ... e árvores ...”; 27:28 - “Deus te dê da exuberância da terra...”; Deuteronômio 1:25 - “tomaram do fruto da terra ... É terra boa que nos dá o Senhor...”).

Finalmente, ‘erets significa “terra” no sentido de um território delimitado. Encontramos assim “a terra do norte” (Jeremias 3:18), a “terra da campina” (Jeremias 48:21), a “terra de teus pais” (Gênesis 31:3), a “terra do seu cativeiro” (I Reis 8:47), a “terra dos Cananeus” (Êxodo 13:5), a “terra de Israel” (I Samuel 13:19), a “terra de Benjamim” (Jeremias 1:1), e a “terra do Senhor” (Oséias 9:3).

Permanecemos assim ainda sem uma definição clara do termo. Terra, chão seco, solo, terreno ou território, todas estas palavras são traduções adequadas e comuns da palavra ‘erets do Velho Testamento. Somente o contexto pode nos guiar para a escolha de uma tradução adequada.

Terra no contexto de Gênesis 1:1

Uma pesquisa contextual é difícil de ser considerada em um espaço tão limitado, pois o contexto de um versículo ou de uma palavra pode bem ser comparado com as ondas concêntricas produzidas por uma pedra atirada em um lago. O problema se estende cada vez mais à medida que nos aprofundamos nele. Conseqüentemente, podemos tão somente fazer observações sucintas.

O contexto imediato encontramos no próprio versículo 1, especialmente na expressão “os céus e a terra”(12). É esta uma expressão familiar (13) que em geral é tomada como referindo-se a tudo - o mundo todo - com base em que os céus e a terra constituem os limites extremos de tudo que entre eles existe, isto é, o mundo todo (14). Na realidade poder-se-ia também ler a expressão como fazendo referência aos locais de habitação de Deus e dos homens, ou os seus âmbitos respectivos (Eclesiastes 5:2 - “Deus está nos céus e tu na terra”). Neste caso, a abóboda celeste e a superfície da terra exprimiriam o sentido desejado. Entretanto, no contexto da Criação divina, existe no Velho Testamento algum apoio para entendermos esses termos como se referindo mais à totalidade (de todas as coisas) do que à especificação daqueles âmbitos respectivos (Salmo 136:1-9, Isaias 40:21-23 e 45:11 e versículos seguintes).

A tradução toda de Gênesis 1:1 é deveras difícil, como recentes traduções da Bíblia deixam claro (15). Não há como aprofundarmos esse assunto aqui, a não ser dizermos que o versículo 1 provavelmente é uma introdução geral a todo o relato da Criação (Gênesis 1:1 - “No princípio criou Deus os céus e a terra”; 2:4 - “ Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o Senhor Deus os criou”) (16), e deveria ser traduzido como “no princípio criou Deus os céus e a terra”. Céu e terra, então, é tudo o que vem em seguida no relato, a partir do primeiro ato de Deus - a criação da luz (versículo 3). Subseqüentemente, o segundo dia testemunha a formação do céu (versículo 8), e o terceiro dia fala do aparecimento da terra (versículo 10), seguidos da criação de seus respectivos conteúdos (do versículo 11 até 2:1).

A terra emergente (versículo 9), yabassa (“porção seca”) é chamada de ‘erets (“terra”) em oposição às águas que são chamadas de mares. Isso nos poderia levar a simplesmente identificar ‘erets como a terra firme física (solo, rochas, etc.), não fosse o fato de que a palavra ‘erets (“terra”) é também usada no versículo 2 para descrever aquilo que ainda não havia sido separado em terra seca e mar. Conseqüentemente, podem alguns concluir que ‘erets (“terra”) no capítulo inicial da Bíblia apresenta pelo menos dois significados distintos. Obviamente ela se refere à terra seca (versículo 10), mas também àquilo sem forma e vazio que a precedeu (versículo 2).

Parece claro que o primeiro desses dois significados, “terra seca”, é dominante no resto do capítulo (versículos 11, 12, 20, 22, 24, 26, 29, 30). Em um caso (versículo 25 - “... répteis da terra”), a terra (‘erets) é identificada especificamente com o solo (‘adama), como para ressaltar esse ponto. Entretanto, em alguns outros lugares pode ser preferível um entendimento mais global para ‘erets. Assim, os versículos 14 a 19 falam do sol, da lua e das estrelas e sua relação com a terra. São eles colocados no firmamento não somente para dar luz, mas também para medir estações (festivais), dias e anos. Pareceria que o sistema solar e os seus movimentos (como então concebidos) estão aí em consideração. Gênesis 2:1-4, de igual modo, fala dos céus e da terra e seus exércitos, indicando presumivelmente todo o sistema, e assim completando o relato iniciado no versículo 1 (17).

Podemos assim tirar as seguintes conclusões preliminares. Em geral a palavra ‘erets (“terra”) em Gênesis 1:1 a 2:4 refere-se à terra seca, em contraposição ao ar e ao mar, na qual podem viver o homem, as plantas e os animais. Em outras palavras, ‘erets significa a superfície da terra. Em segundo lugar, o relato também implica que esta terra é parte de um sistema maior, que inclui o sol, a lua e as estrelas (18), e portanto tem um significado mais amplo do que meramente o chão seco sobre o qual pisamos. Ela constitui, também, pelo menos uma região, algo que caracterizamos pelo adjetivo “terrestre”. Desta forma ela inclui o mar para os peixes e o ar para as aves, ambos criados juntamente no quinto dia, antes dos animais terrestres. Em terceiro lugar, na expressão “céu e terra”, ‘erets é parte de um todo que abrange tudo que Deus criou, desde o âmbito terrestre até o celeste. Portanto aqui ‘erets é menos significativo para nossas indagações, pois não se relaciona nem com a matéria nem com o território terrestre, mas simplesmente com a extremidade inferior do espectro que descreve toda a Criação divina. Portanto, ao indagarmos o que é o céu e a terra que Deus criou, no relato de Gênesis 1:1 provavelmente a resposta seria que é tudo que se segue em Gênesis 1:2 a 2:4, dando-se, porém, especial atenção à superfície frutífera que pode sustentar e manter a vida.

O problema de Gênesis 1:2

Isto nos deixa com o espinhoso problema de Gênesis 1:2 (“A terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”), um versículo que freqüentemente é usado para descrever a condição da terra em seu estado primordial. Porém, o que significa a palavra “terra” aqui? O globo, a matéria física, ou o solo coberto pela água? Poderemos, de alguma maneira, penetrar o véu que vela a obra criativa de Deus, e saber como Ele operou realmente no início? Algumas propostas têm sido consideradas, nesse propósito:

1) O versículo descreve a existência da terra no intervalo entre a criação original da matéria e a criação da vida. A “terra” ou deveria ser vista como a matéria prima a ser modelada para dar origem a uma terra organizada (19), ou, de acordo com a chamada hipótese da restituição (20), descreveria um mundo caído de sua glória anterior, à semelhança de Lúcifer (versículo 1).

2) O versículo descreve a primeira obra criadora de Deus, uma terra escura e aquosa, no primeiro dia da semana da criação. Este ponto de vista pode trazer alguma dúvida sobre a seqüência das obras de Deus na criação, começando com a luz e terminando com o homem, e poderia levar à sugestão impossível de que o primeiro ato criativo de Deus não tivesse sido bom (21). Young, entretanto, argumentou que essa primeira terra, criada por Deus, era de fato boa, embora ainda não apropriada para a vida (22). ‘Erets, aqui, teria sentidos diferentes nos versículos 2 e 10. O último versículo indicaria um desenvolvimento posterior ao do primeiro.

3) O versículo descreve um caos que permanece não muito antes da criação, em oposição à criação, exprimindo uma sempre presente ameaçadora possibilidade de julgamento divino (23). Aqui, então, a “terra” do versículo 2 é a mesma “terra” do versículo 10, como seria ou deveria ser sem o poder criativo de Deus.

4) O versículo descreve a terra antes da criação, e a caracteriza como sendo um “nada”, isto é, como nada mais do que uma condição na qual a criação da terra poderia ocorrer. De acordo com esta sugestão, bastante comum, ‘erets (“terra”) no versículo 2 não apresenta, em absoluto, qualquer significado especial (da mesma maneira que um aposento vazio não apresenta conteúdo) (24). Aqui, o versículo 2 reitera o tema do versículo 1, porém em um sentido negativo, isto é, que Deus criou tudo no princípio.

Isto significa que ‘erets (“terra”) no versículo 2 não nos ajuda muito para a solução de nosso problema, a menos que, de fato, aceitemos um hiato entre os versículos 1 e 2, de tal forma que o versículo 1 se torne uma cláusula temporal e o versículo 2 uma descrição da matéria pre-existente, o que, entretanto, se contrapõe a alguns estudos cuidadosos que têm sido feitos sobre o problema (25). Alternativamente, o versículo 2 não contribui para a descrição de uma terra criada, a menos que aceitemos o ponto de vista de Young, o que, entretanto, acarreta sérias dificuldades, em particular que a criação divina da terra sugerida no versículo 2 não segue o esquema das outras obras de Deus na criação. Assim, se eliminarmos as proposições 1 e 2, ficamos com as proposições 3 e 4, nenhuma das quais traz qualquer outra contribuição para o nosso conceito da terra primordial a não ser que Deus a tenha criado.

Conseqüentemente, somos de novo levados a Gênesis 1:1, que anuncia de forma sucinta que Deus criou os céus e a terra, seguindo-se uma descrição deste evento. Parece que a terra (‘erets) seria a terra seca sobre a qual pode existir a vida, embora se reconheça que ela faça parte de um sistema mais amplo (sol, lua, estrelas) que provê luz e comanda as estações em seu ciclo.

A terra no pensamento bíblico (26)

Disto resulta uma última questão. Que conclusões podemos tirar das considerações anteriores com relação às perguntas de ordem geofísica que fizemos no início? Gênesis 1:1 refere-se à criação da matéria que fisicamente compõe a terra, ao planeta terra, ou ao solo da superfície da terra? Para responder essa questão devemos primeiramente investigar o sentido da palavra “terra”. Verificamos que geralmente esta palavra significa chão (certamente em Gênesis, do capítulo 1 ao capítulo 2, versículo 4), embora tenhamos de estar alertardos para o fato de que algo mais além do solo esteja associado a ela (versículos 14-19). Entretanto, ao apresentarmos nossas questões contemporâneas perante o texto bíblico, deveríamos também investigar se o próprio texto permite a aceitação das distinções que fazemos, e das nossas razões para fazê-las.

Por exemplo, fazemos distinção entre terra e o planeta terra porque a ciência atual tem-nos apresentado uma cronologia de bilhões de anos para o planeta, enquanto que o texto bíblico apresenta uma cronologia curta para a terra. Entretanto, não existem evidências de que o texto bíblico tivesse manifestado qualquer preocupação com relação a esse tipo de problema. Pelo contrário, o texto bíblico só faz distinção entre terra, entendida como chão ou terra seca, e mundo, no sentido de planeta, porque o primeiro significado tem a ver com o âmbito da vida humana e seu domínio, enquanto que o segundo tem a ver com o âmbito mais amplo das obras de Deus. Assim, Deus criou os céus e a terra (o mundo todo), enquanto que a terra (terra seca) foi feita para a vida e a humanidade. A distinção baseia-se numa perspectiva de função, e não de cronologia, e conseqüentemente não se pode esperar qualquer distinção temporal explícita entre ambas, o que na realidade não existe.

O melhor que podemos afirmar com relação à criação da terra em Gênesis 1:1 é que ela tem que ver com nosso mundo, a terra, e que ela envolve o sistema ecológico no qual vivemos. Muito mais precisaria ser dito sobre questões geofísicas levantadas em nossa época, porém a Bíblia em geral silencia a seu respeito.

Assim, nossa conclusão de que a palavra ‘erets (“terra”) refere-se precipuamente à superfície seca de nosso planeta e à vida nela existente, não permite concluirmos que Gênesis 1 retrate um segundo estágio de uma criação em dois estágios, primeiro a matéria do planeta, e depois a terra, com um intervalo de tempo intercalado. Permite, sim, fazer uma distinção de perspectiva entre o mundo, como sistema céu e terra, e a terra como a porção de terra seca, com seu solo e sua vida. Qualquer distinção temporal entre ambas as acepções correrá por nossa conta, e não com o apoio do texto bíblico.

Não é desprovido de significado, aparentemente, que a Bíblia e o relato da criação iniciam-se com a simples palavra bere’shit, significando “no princípio” (e não com a palavra “Deus”, como se poderia pensar). Conclui-se que a Bíblia nos indica que quem quer que deseje compreender o seu relato da criação não deve ser levado a inquirir sobre o que poderia ter acontecido antes desse princípio, pois no início permanece somente Deus, e nada mais. Somos levados, pela Bíblia, a inquirir sobre o que aconteceu posteriormente ao início da obra criadora de Deus, porém ela na verdade não responde a todas as nossas questões!

Referências

(1) A literatura é abrangente e variada. Ver por exemplo W. Eichrodt, 1962, In the Beginning, pp. 1-10, in “Israel’s Prophetic Heritage” (New York); G. F. Hasel, 1972, Recent Translations of Genesis 1:1 : A Critical Look, “The Bible Translator” 22:154-167; E. J. Young, 1964, Studies in Genesis One (Philadelphia); N. H. Ridderbos, 1958, Genesis 1:1 und 2, “Oudtestamentische Studiën” 12:214-260; W. H. Schmidt, 1967, Die Scöpfungsgeschichte (Neukirchen); C. Westermann, 1967, Genesis BK 1/2 (Neukirchen), pp. 130-141.
(2) Esta posição incomum é considerada somente esporadicamente, e provavelmente é influenciada pelas palavras tohu wabohu (“sem forma e vazia”) no versículo 2. Ver J. Calvin, 1847, Genesis (Edinburgh), p. 70; Clarke’s Commentary, 1830, vol. 1 (New York), p. 30.
(3) Este é o ponto de vista mais comum. Ele considera “o céu e a terra” (versículo 1) como a expressão do mundo todo, o universo, ou algo semelhante. H. Gunkel, 1922, Genesis (5ª Edição, Göttingen), p. 102; J. Skinner, 1910, Genesis (New York), p. 14; Westermann, Genesis, pp. 140s.
(4) Um ponto de vista menos freqüentemente expresso, que questiona ter o Velho Testamento uma perspectiva universal, e sim uma perspectiva limitada à abóboda celeste com a terra abaixo dela. Ver Young, Studies in Genesis One. pp. 9s; U. Cassuto, 1978, A Commentary on the Book of Genesis, vol. I (Jerusalém), p. 26; B. Vawter, 1977, On Genesis : A New Reading (New York), p. 38.
(5) W. Helck e E. Otto, eds., 1975, Lexikon der Ägyptologie (Wiesbaden), pp. 1263s.
(6) Ver S. Morenz, 1973, Egyptian Religion (Londres), pp. 29s.
(7) The Assyrian Dictionary, 1958, vol. IV (Chicago), pp. 311-313.
(8) Ugaritic Textbook (Roma, 1965), pp. 366s.
(9) Ver G. Johannes Botterweck e Helemer Ringgren, eds., 1978, Theological Dictionary of the Old Testament, vol. I (Grand Rapids), p. 392.
(10) J. C. L. Gibson, 1971, Textbook of Syrian Semitic Inscriptions, vol. I (Oxford), p. 74.
(11) Recentemente, P. D. Miller, 1978, Genesis 1-11, “Journal for the Study of the Old Testament Supplement” 8:37s.
(12) A palavra hebraica “céus” (shamayim) é dual (e não simplesmente plural), indicando talvez duas regiões celestes. Ver L. I. J. Stadelmann, S. J., 1970, The Hebrew Conception of the World, “Analecta Biblica” 39:37-41 (Roma).
(13) Ver N. C. Habel, 1972, Yaweh, Maker of Heaven and Earth; A Study in Tradition Criticisms, “Journal of Biblical Literature” 71:16.
(14) Ver A. M. Honeyman, 1952, Merismus in Biblical Hebrew, “Journal of Biblical Literature” 71:16.
(15) Ver The New English Bible, The New American Bible, The New Jewish Version, Anchor Bible, versões que abandonaram a tradução tradicional “No princípio criou Deus os céus e a terra”.
(16) Ver Hasel, Recent Translations of Genesis 1:1.
(17) Ver Schmidt, Die Schöpfungsgeschichte, p. 76.
(18) O hebraico cocavim (estrelas) são corpos celestes outros que não o sol e a lua. Com base somente na palavra é possível, mas não necessária, uma distinção entre estrelas fixas e planetas. A referência feita aqui às estrelas é incidental, quase parentética, para completar o quadro. Ver Westermann, Genesis, p. 182.
(19) Este ponto de vista pressupõe uma criação anterior do universo material, e é encarada favoravelmente por cientistas que aceitam uma cronologia extensa para a matéria e uma cronologia resumida para a vida na terra.
(20) Também designada como “Teoria da Ruína e Reconstrução, de Gênesis 1:2” em W. E. Lammerts, ed., 1971, Scientific Studies in Special Creation (Philadelphia), pp. 32-40.
(21) B. Childs, 1962, Myth and Reality in the Old Testament (New York), pp. 31-43.
(22) C. D. Simpson, 1952, Genesis, “Interpreter’s Bible”, vol. I (New York), p. 468.
(23) Young, Studies in Genesis One, p. 23.
(24) Os argumentos a favor desta interpretação são tirados de relatos da criação antigos do Oriente Próximo, e de Gênesis 2:5 que usa a expressão “quando... não havia ainda nenhuma planta do campo ...etc . na terra”. Ver Westermann, Genesis, pp.141s; Ridderbos, Genesis 1:1 und 2, pp. 224-227, et al.
(25) Ver nota (1) acima.
(26) Para um acompanhamento mais completo deste assunto, ver Stadelmann, The Hebrew Conception of the World, pp. 126-154.

[Artigo publicado originalmente na Folha Criacionista nº 53 - disponível no site da Revista Criacionista]

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Bíblia e a Paleontologia

Arthur V. Chadwick
Southwestern Adventist University

Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Revisão: Marcia Oliveira de Paula
Marcos Natal de Souza Costa

Minha Perspectiva

Ao lidar com um tópico sujeito a tanta controvérsia e interpretação quanto este, penso que é apropriado afirmar meus próprios pressupostos no início. Farei isto de forma abreviada. Quando cursava a faculdade, tornei-me convencido de minha necessidade de Cristo e entreguei minha vida a ele, unindo-me à Igreja Adventista do Sétimo dia, devido ao meu desejo de seguir a Verdade aonde quer que ela levasse. Parecia claro para mim naquela época, e assim é ainda hoje, que a Bíblia ensina intencionalmente lições que não podemos apreender por nós mesmos. Conquanto eu acreditasse que processos racionais fossem essenciais para o estabelecimento de uma filosofia de vida, reconhecia que a razão somente não seria suficiente.

A crença em um evento de Criação Divina literal em um passado recente é uma parte de minha filosofia. Não necessito de evidências científicas para dar apoio a esta posição, mas espero que, corretamente entendidos, todos os dados científicos irão finalmente fazer sentido dentro desta estrutura. Portanto, meu objetivo ao fazer ciência, não é "provar" que um dilúvio global ocorreu, ou que a criação foi um evento literal que ocorreu há poucos milhares de anos atrás. Estes fatos são assumidos como dados. Espero que, usando estas perspectivas singulares na ciência, eu e outros assim equipados, obteremos vantagens nos "insights" que podemos ter ao abordar problemas na arena da ciência.

Há muitas questões não respondidas sobre o mundo natural como o que, como e quando. Para os cientistas, possuir mais perguntas do que respostas não é uma situação desagradável. Afinal, o papel da ciência é buscar respostas a questões do mundo natural e o que poderia ser melhor do que estar rodeado de questões não respondidas e desafiadoras? Também entendo que nem todos partilham desta perspectiva. No artigo que se segue, tentarei colocar algo daquilo que sabemos, do que podemos saber, do que não sabemos, e talvez do que não podemos saber da Bíblia e da paleontologia, sobre a história da vida na terra.

Uma das áreas singulares a serem exploradas seria dirigir esforços para a construção de um modelo do mundo antediluviano, baseado no que é conhecido a partir da Bíblia e dos melhores esforços para interpretar o mundo natural em harmonia com a Bíblia. O esforço necessário para que um tal projeto seja viável é enorme. Alguns de nós apenas iniciamos a sondagem do Cambriano, com o objetivo de entender o que foi provavelmente o início do Dilúvio do Gênesis. Estamos usando padrões de depósitos sedimentares para discriminar áreas de origem potenciais de sedimentos e fósseis, o padrão de distribuição de fósseis para tentar reconstruir os tipos ou número de habitats, e dados de paleocorrentes para tentar reconstruir os padrões de fluxo e ajudar a localizar as áreas de origem. Fica claro que um empreendimento monumental como este só poderá ser bem sucedido por meio de um esforço conjunto, bem dotado de recursos, com tantos pesquisadores bem treinados e dedicados quanto possível. Naturalmente o objetivo seria entender melhor as circunstâncias que produziram o registro fóssil, e ser capaz de explicar alguns dos detalhes difíceis de entender. Antes de decidir se tal esforço é ou não necessário ou importante, vamos revisar o outro aspecto desta apresentação, a paleontologia. (...)

[Leia o artigo na íntegra clicando aqui]

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dilúvio Universal - Prof. Dr. Walter Veith



Acompanhe a sequência do estudo selecionando as outras partes no menu que aparece no final de cada apresentação.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O mito da Terra plana

O livro Inventando a Terra Plana (São Paulo: Editora Unisa, 1999), de Jefrey Burton Russel, historiador e pesquisador da Universidade da Califórnia, mostra convincentemente que a ideia da Terra plana foi uma elaboração mais ou menos recente. Embora hoje se saiba que os europeus renascentistas tenham supervalorizado a ideia de que houve um período de mil anos de trevas intelectuais entre o mundo clássico e o moderno, Russel acredita que o erro da Terra plana não havia sido incorporado à ortodoxia moderna antes do século 19. “[Russel] descobriu o fio da meada nos escritos do americano Washington Irving e do francês Antoine-Jean Letronne [responsáveis pela posterior propagação do mito da Terra plana]. Mas sua disseminação no pensamento convencional ocorreu entre 1870 e 1920, como consequência da ‘guerra entre a ciência e a religião”, quando para muitos intelectuais na Europa e nos Estados Unidos toda religião tornou-se sinônimo de superstição e a ciência tornou-se a única fonte legítima da verdade. Foi durante os últimos anos do século 19 e os primeiros anos do século 20 que a viagem de Colombo tornou-se então um símbolo amplamente divulgado da futilidade da imaginação religiosa e do poder libertador do empirismo científico. … os pensadores medievais, da mesma forma que os clássicos que os antecederam, criam na redondeza da Terra” (p. 10).

Irving (1783-1859) retocou a história para parecer que a oposição à viagem de Colombo se deveu ao pensamento de que a Terra fosse plana . Isso foi provado falso. A oposição se deveu, na verdade, à preocupação com a distância que os navegadores teriam que percorrer. A esfericidade da Terra não foi tema de discussão naquela ocasião.

O fato é que nem Cristóvão Colombo, nem seus contemporâneos pensavam que a Terra fosse plana. Não há uma referência sequer nos diários do navegador (e de outros exploradores) que levante a questão da redondeza da Terra, o que indica que não havia contestação alguma a esse respeito, na época. Assim, segundo Russel, é comum a regra de Edward Grant de que no século 15 não havia pessoas cultas que negassem a redondeza da Terra. No entanto, esse mito permanece até hoje, firmemente estabelecido com a ajuda dos meios de comunicação e dos livros didáticos. Com que interesse?

Para Russel, o mito da Terra plana pode ser rastreado até o século 19, especialmente a partir de 1870, à medida que autores de livros-textos se envolveram na controvérsia em torno do darwinismo. “No início do século [20] a força dominante subjacente ao erro [da Terra plana] foi o anticlericalismo do Iluminismo no seio da classe média na Europa, e o anticatolicismo nos Estados Unidos” (p. 35).

Antes disso, na Divina Comédia, o poeta Dante Alighieri (1265-1321) já apresentava o conceito de uma Terra redonda. Os filósofos escolásticos, incluindo o maior deles, Tomás de Aquino (1225-1275), conhecedores de Aristóteles, igualmente afirmavam a esfericidade da Terra.

No entanto, como os escolásticos e filósofos medievais se baseavam em Aristóteles e este defendia a esfericidade da Terra, os iluministas tiveram que arranjar outros referenciais para dizer que o mito se baseava neles. E os encontraram em Lactâncio (245-325 d.C.) e Cosme Indicopleustes, autor de Topografia Cristã (escrito entre 547 e 549 d.C.). Só que, segundo Russel, Lactâncio tinha ideias muito estranhas sobre Deus e não foi levado em consideração na Idade Média (na verdade, foi considerado herege) – até que os humanistas da Renascença o “ressuscitassem”, apregoando sua suposta influência. Indicopleustes, partindo de escritos de filósofos pagãos e interpretando erroneamente textos bíblicos poéticos, defendeu a ideia da Terra plana. Era ignorado, ao invés de seguido.

Detalhe: a primeira tradução de Cosme para o latim não foi feita senão em 1706. Portanto, como poderia ele ter tido influência sobre o pensamento ocidental medieval?

Russel arremata:

“[Lactâncio e Cosme] foram símbolos convenientes a serem uados como armas contra os antidarwinistas. Em torno de 1870, o relacionamento entre a ciência e a teologia estava começando a ser descrito através de metáforas bélicas. Os filósofos (propagandistas do Iluminismo), particularmente [David] Hume, haviam plantado uma semente ao implicar que estavam em conflito os pontos de vista científicos e cristãos. Augusto Comte (1798-1857) havia argumentado que a humanidade estava laboriosamente lutando para ascender em direção ao reinado da ciência; seus seguidores lançaram o corolário de que era retrógrado tudo o que impedisse o advento do reino da ciência. Seu sistema de valores percebia o movimento em direção à ciência como ‘bom’, de tal forma que o que atrapalhasse esse movimento era ‘mau’. (…) O erro [da Terra plana] foi, desta forma, incluído no contexto de uma controvérsia muito maior – a alegada guerra entre ciência e religião” (p. 67, 77).

O próprio Copérnico, no prefácio de seu clássico trabalho De Revolutionibus, usou Lactâncio para ilustrar como a ignorância dos opositores à ideia da Terra esférica era comparável à dos que insistiam no geocentrismo. Curiosamente, Copérnico não diz que Lactâncio era típico do pensamento medieval. Esse prefácio foi enviado para o papa a fim de obter aprovação eclesiástica. Copérnico não atacaria Lactâncio e sua ideia da Terra plana, se a igreja estivesse de acordo com esse pensamento. O problema, como já vimos, teve que ver com o geocentrismo aristotélico versus heliocentrismo, e não com o formato da Terra.

(Michelson Borges)

Fonte: Sábado.org

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