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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

I Encontro de Ciências da Terra, Geociências e Arqueologia da Unifal-MG


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Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG, câmpus Alfenas, 11 a 12 de novembro de 2013.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Extinção da megafauna foi causada por conjunto de fatores, diz estudo

As extinções em massa dos animais gigantes que viviam na Terra durante a Era do Gelo [sic] não têm apenas uma causa, mas um grande e complexo conjunto de causas, afirma um estudo que envolveu mais de 40 instituições, publicado na edição desta quinta-feira (3) da revista Nature.

A razão do desaparecimento de grandes espécies como o mamute e o rinoceronte lanudo durante a Era do Gelo é um dos mistérios da paleontologia. Explicações diferentes foram propostas: desde as mudanças climáticas até o excesso de caça.

A pesquisa publicada agora, no entanto, afirma que nenhum desses fatores sozinhos é suficiente para explicar o tamanho da devastação, que matou um terço das espécies de mamíferos da Eurásia e dois terços da América do Norte.

Para estudar a extinção da chamada “megafauna”, os cientistas tiveram que se reunir em um “megaestudo”. O pesquisador Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, liderou um grupo de mais de 50 cientistas de 40 universidades no maior trabalho do tipo já realizado.

A equipe estudou os dados climáticos, o DNA das espécies e registros arqueológicos e descobriu que cada um desses dados explica uma extinção diferente.

Por exemplo, o bisão siberiano e o cavalo selvagem foram extintos provavelmente pela caça de seres humanos. No entanto, o desaparecimento do rinoceronte-lanudo e do boi-almiscarado na Eurásia não parecem ter tido a ver com a presença humana – o clima seria o único culpado ali.

E enquanto as renas não parecem ter sido afetadas nem por clima nem por ação humana, o fim dos mamutes segue um mistério a ser desvendado.

De acordo com Willerslev, o trabalho acaba com a ideia de que apenas uma coisa é responsável por cada uma das diversas extinções da megafauna.

Fonte: G1

Nota: Questão de interpretação das evidências. Percebo mais coerência na ideia de que um único conjunto de catástrofes e eventos derivados deram fim a todas essas e outras espécies hoje extintas, uma extinção em massa: o dilúvio global descrito na Bíblia. Afinal, como explicar coerentemente fatos como jazidas enormes de fósseis, inclusive de diferentes espécies juntas... Morte em margens de lagos e rios? Sendo assim, como explicar o próprio fato da fossilização, que é resultado de um soterramento rápido de um ser vivo, além de outras condições específicas? Como entender fósseis preservados em estado de agonia e sufocamento? Alguns têm alimento não digerido no estômago e há até animais sepultados em pleno ato de dar à luz. Como teria se fossilizado um animal morto por humanos, por exemplo, uma vez que seus restos mortais logo se decomporiam ou seriam reciclados por carniceiros/comedores até de ossos? Como explicar o "mistério" do desaparecimento dos mamutes, por exemplo, seres enormes que não é qualquer enchente local que os soterraria rapidamente? Se fosse por mudança climática relativamente longa, por exemplo, será que não migrariam para outras regiões? Talvez alguns representantes de algumas dessas espécies tenham sobrevivido no pós-dilúvio, mas logo foram extintas pela falta de alimentos próprios para as espécies e anomalias rápidas no clima, como consequências dos eventos do dilúvio. Na verdade, tudo isso não é um mistério completo, basta aceitar as evidências diluvianas.[ALM]

sexta-feira, 4 de março de 2011

Torre de Babel: mito ou verdade?

Um dos primeiros arranha-céus da história da humanidade é uma torre construída na Idade da Pedra Polida (9000 a.C. a 4500 a.C.), descoberta em 1952, em Jericó, na Palestina. Até janeiro deste ano era praticamente unanimidade no mundo arqueológico que aquela construção de 8,5 metros teria sido erguida para servir ao povo de proteção contra invasões e espaço de observação de astros e estrelas. Um artigo publicado pela dupla de pesquisadores Roy Liran e Ran Barkai, da Universidade de Tel Aviv, no mês passado, porém, acena para a possibilidade de que a edificação teria sido utilizada para prever catástrofes naturais – inundações, no caso – e abrigar os sacerdotes, na época os reis, contra elas. Essa nova luz lançada sobre a Torre de Jericó abriu uma discussão sobre a veracidade de uma passagem bíblica: a existência ou não da Torre de Babel. É consenso entre pesquisadores que a civilização começou na Mesopotâmia, hoje Iraque, na região conhecida como Crescente Fértil. Ali, teriam sido inventadas a roda, a escrita e a agricultura. Autor da teoria da revolução neolítica (a Idade da Pedra também é conhecida como Período Neolítico), o filólogo australiano especializado em arqueologia Vere Gordon Childe (1892-1957) afirma que essas transformações ocorreram por conta de profundas mudanças climáticas na Era Glacial que obrigaram o povo a migrar, vindo do Oriente, para aquela região entre os rios Tigre e Eufrates. Jericó seria uma espécie de neta da Mesopotâmia, para onde algumas pessoas migraram, fundando um dos assentamentos urbanos mais antigos da Terra fora do Crescente Fértil. Elas teriam chegado lá trazendo na memória um trauma de seus ascendentes, a catástrofe diluviana. [A teoria chega perto da realidade.]

Naquela época, seca, terremotos ou meteoros não amedrontavam a população, de acordo com o especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém Rodrigo Pereira da Silva. Uma grande inundação, um dilúvio, era a catástrofe que se temia. “Quando um povoado fundava novas civilizações, erguer uma torre era um procedimento-padrão. Além de funções religiosas, a construção servia para que se escapasse de novas inundações”, diz Silva. Atualmente, já foram encontradas 31 ruínas de torres na Mesopotâmia. A de Jericó é a única naquela cidade. E o muro em torno dela está estruturado como uma espécie de dique. “A fundação das cidades está diretamente ligada à construção de torres e ao medo de um dilúvio. Isso é claro na arqueologia”, reforça o especialista.

A literatura bíblica relata que um grupo de pessoas vindo do Oriente habitou um vale em Sinar, hoje Iraque, e ergueu uma torre. Está em Gênesis capítulo 11. Para punir a ousadia desses humanos que queriam tocar os céus, Deus fez com que eles falassem idiomas diferentes, tornando impossível a comunicação entre eles e os obrigando a migrar para outros lugares da Terra. Babel, em hebraico, significa confundir. A Torre de Babel, portanto, seria uma representação do episódio da confusão das línguas patrocinado por Deus. Um tablete de argila com escrita cuneiforme – um dos primeiros textos da humanidade, datado de 2500 a. C., encontrado no Iraque e traduzido em 1872 – traz um relato controvertido que parece ser um paralelo à história bíblica da Torre de Babel: “...seu coração se tornou mal... Babilônia submeteu os pequenos e os grandes. Ele (uma divindade) confundiu seus idiomas... o seu lugar forte, que por muitos dias eles edificaram, numa só noite ele trouxe abaixo.”

Outro texto cuneiforme, produzido em cerca de 2200 a.C. e publicado em 1968, faz menção de uma época em que havia “harmonia de idiomas em toda Suméria” e os cidadãos “adoravam ao deus Enlil numa só língua... o deus Enki, senhor da abundância... e o líder dos deuses... mudou a linguagem na sua boca e trouxe confusão a eles. Até então, a linguagem dos homens era apenas uma”. A Bíblia, portanto, seria um elo entre a história da Torre de Jericó e as construções anteriores na Mesopotâmia. “Há elementos históricos para supor que algum tipo de dilúvio de proporções catastróficas ocorreu de fato, assim como uma Torre Babel”, diz o arqueólogo Silva, que leciona no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). “A história da Bíblia tem plausividade arqueológica e histórica.”

Professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese argumenta que a veracidade bíblica não se sustenta pela ciência, mas pela fé. Para ele, um especialista em história das religiões, o autor de Gênesis, diante da multiplicidade de línguas e com os olhos repletos de religiosidade, lançou mão de uma narrativa que passa pela realidade para entender o mundo que o cercava. “Não estou invalidando o discurso bíblico, mas prefiro seguir a linha de pensamento dos teólogos alemães da primeira metade do século XIX. Influenciados pelo racionalismo, eles acreditam que o dilúvio, a Torre de Babel, Caim e Abel, Adão e Eva são formas de exprimir um Deus agindo do ponto de vista literário.” [Chevitarese prefere ficar com a escola teológica alemã de dois séculos atrás a se render aos fatos da arqueologia.]

O novo propósito atribuído à construção da Torre de Jericó pela dupla Liran e Barkai, da Universidade de Tel-Aviv, publicado na conceituada revista inglesa de arqueologia Antiquity, aproxima o contexto cultural com a Torre de Babel bíblica e abre espaço, se não para a certeza, para a possibilidade histórica de uma passagem das Sagradas Escrituras.

Fonte: IstoÉ

Lido em: Criacionismo

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

National Geographic e as controvérsias arqueológicas

A revista National Geographic deste mês apresenta o cenário belicoso que há entre duas correntes arqueológicas: os que procuram negar a historicidade dos relatos bíblicos e os que tentam confirmá-los. A reportagem de capa merece ser lida pela riqueza de detalhes com que trata o assunto e pelo relativo equilíbrio entre os "dois lados" da história. Isso deveria ser imitado pelas populares revistas brasileiras de divulgação científica que frequentemente pecam pela superficialidade e partidarismo.

O texto na Nation
al Geographic trata principalmente da descoberta feita em 2005 pela arqueóloga Eilat Mazar. Na época, ela anunciou que provavelmente havia descoberto o palácio do rei Davi. "Foi como se fizesse veemente defesa de uma proposição da velha escola de arqueologia que está sob ataque há mais de um quarto de século: a ideia de que a descrição bíblica do império fundado por Davi e levado adiante por seu filho Salomão é historicamente exata", diz a revista. "A contundente declaração de Eilat deu força àqueles cristãos e judeus do mundo todo para quem o Antigo Testamento pode e deve ser interpretado ao pé da letra." [Bem, a questão aqui não é de interpretação, como se verá mais adiante, mas de confirmação do pano de fundo histórico de um período descrito pela Bíblia.]

A crítica é mesmo antiga: arqueólogos minimalistas afirmavam que o império de Davi e Salomão jamais havia existido, pois aparentemente não há evidências de construções na região. Até que Eilat divulgou seu achado. A fim de desacreditar a descoberta, houve até ataques pessoais (ad hominem): críticos ressaltaram que as escavações da arqueóloga foram financiadas por duas organizações, a Fundação Cidade de Davi e o Centro Shalem, dedicadas a reivindicar direitos territoriais para Israel. "E zombam porque ela usa os métodos antiquados de antepassados arqueólogos, como os do avô, que não se constrangia em trabalhar com a pá numa mão e a Bíblia na outra", diz a matéria. Note que os ataques são dirigidos à fonte de financiamento da pesquisa e aos métodos da arqueóloga, e não necessariamente à descoberta dela.

A matéria prossegue: "A prática antes comum de usar o livro sagrado como guia arqueológico é contestada por ser um raciocínio circular, anticientífico - e quem mais se empenha contra ela é o questionador-mor da Universidade de Tel-Aviv, Israel Finkelstein, que dedicou a carreira a demolir estrondosamente hipóteses desse feitio. Ele e outros proponentes da ‘baixa cronologia' afirmam que o peso das evidências arqueológicas em Israel e seu entorno indica que as datas postuladas pelos estudiosos da Bíblia estão antecipadas em um século. As construções ‘salomônicas' escavadas por arqueólogos bíblicos ao longo de várias décadas recentes em Hazor, Gezer e Megiddo não foram erigidas no tempo de Davi e Salomão, argumenta ele; portanto, devem ter sido construídas por reis da dinastia Omride, no século 9 a.C., bem depois do reinado de Salomão."

Se acusam Eilat de ter interesses "escusos" e usar a Bíblia como documento histórico orientador de pesquisa, por que não lembram que Finkelstein é crítico ferrenho de tudo que "cheira a Bíblia"? É só notar a ferocidade da seguinte declaração dele: "É claro que não estamos olhando para o palácio de Davi! Tenha a santa paciência. Tudo bem, eu respeito seus [de Eilat] esforços. Gosto dela, é uma senhora simpática. Mas essa interpretação é, como direi?, um tanto ingênua."

Finkelstein deve estar ainda mais irado, pois agora, segundo a National Geographic, é a teoria dele que está no paredão. "Logo depois que Eilat declarou ter descoberto o palácio do rei Davi, dois outros arqueólogos revelaram achados notáveis. Trinta quilômetros a sudoeste de Jerusalém, no vale de Elah - justamente onde a Bíblia diz que o jovem pastor Davi matou Golias -, o professor Yosef Garfinkel, da Universidade Hebraica, afirma ter escavado o primeiro trecho de uma cidade judaica datada da época exata em que Davi reinou. Enquanto isso, 50 quilômetros ao sul do Mar Morto, na Jordânia, um professor da Universidade da Califórnia em San Diego, Thomas Levy, passou os últimos oito anos escavando uma grande mina e fundição de cobre em Khirbat en Nahas. Segundo Levy, um dos mais importantes períodos de produção de cobre nesse sítio foi no século 10 a.C. - época em que, segundo a narrativa bíblica, os edomitas, antagonistas de Davi, ocupavam a região (estudiosos como Finkelstein, todavia, garantem que o reino de Edom surgiu apenas dois séculos depois). A própria existência de uma mina e fundição de cobre dois séculos antes do período em que o grupo de Finkelstein aponta como o do surgimento dos edomitas indicaria que havia atividades complexas bem no tempo em que Davi e Salomão reinaram. ‘É possível que isso tenha pertencido a Davi e Salomão', analisa Levy sobre sua descoberta. ‘Porque a escala da produção de metal aqui é, de fato, a de um Estado ou reino antigo.'"

E as evidências? A revista informa que Levy e Garfinkel têm as pesquisas subvencionadas pela National Geographic Society e baseiam suas afirmações em uma profusão de dados científicos, entre eles fragmentos de cerâmica e datação por radiocarbono de caroços de azeitona e tâmara encontrados nos sítios. "Se as evidências de suas atuais escavações se sustentarem, a posição dos peritos de outrora que apontavam a Bíblia como um relato preciso da história de Davi e Salomão pode ser confirmada. Como diz Eilat Mazar com visível satisfação: ‘É o fim da escola de Finkelstein.'"

A reportagem apresenta outras evidências que corroboram as conclusões de Garfinkel - como centenas de ossos de boi, cabra, ovelha e peixe, mas nenhum osso de porco, o que sugere que judeus, e não filisteus, devem ter vivido ali. Tudo isso foi encontrado abaixo de uma camada do período helenístico. E tem mais: a equipe do arqueólogo topou também com um achado raríssimo, um caco de vasilha de cerâmica com inscrições que parecem ser em uma escrita protocananita contendo verbos característicos do hebraico. A conclusão parece óbvia: ali estava uma complexa sociedade judaica do século 10 a.C, do tipo que os defensores da baixa cronologia, como Finkelstein, afirmam que não existe.

Luiz Gustavo Assis é teólogo e trabalhou como auxiliar de pesquisa no Museu de Arqueologia Bíblica Paulo Bork, localizado no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Para ele, Finkelstein não é o único com uma visão negativa a respeito da historicidade do relato bíblico. "Nos anos 1990, diversos teólogos e historiadores de universidades europeias publicaram obras extremamente belicosas contra a Bíblia Hebraica, como Thomas L. Thompson, Niels-Peter Lemche e Philip Davies. Esses são alguns dos nomes que compõem a Escola de Copenhagen, ou os chamados minimalistas, aqueles que desconsideram a Bíblia como um documento com informações históricas precisas", informa Luiz.

Segundo o teólogo, não é preciso ter motivação religiosa para questionar as abordagens e conclusões desses autores, muitas vezes baseadas no silêncio de fontes arqueológicas. Luiz cita o agnóstico William G. Dever, autor do livro What did the Biblical Writers Know & When did They Know It?. Dever ataca ferozmente o niilismo por detrás dessa postura displicente de se encarar a história de Israel. "Dever não é um anônimo ou um novato no assunto", diz Luiz. "Sua carreira como arqueólogo já passa dos 30 anos. Seu nome é tremendamente respeitado nos círculos acadêmicos quando o assunto é arqueologia siro-palestinense ou bíblica. Como um cético, ele não acredita em tudo o que o livro sagrado dos judeus diz, mas sua opinião é honesta: há informação histórica digna de crédito para se estabelecer uma parte da história de Israel."

Finkelstein e outros que afirmavam não existir evidência de atividade escribal em Canaã antes do século 9 a.C. teve novamente que engolir a língua com a descoberta de um caco de cerâmica com aproximadamente 15 cm. O ostracon contém uma inscrição que data do 11º século a.C. e foi descoberto no sítio arqueológico de Khirbet Qeyafa. "Não se trata de uma aglomerado de palavras desconexas", explica Luiz. "É um texto que faz menção de um juiz (shaphat), rei (melekh) e escravos (‘eved)." "Quando Frank Moore Cross - um dos principais especialistas em inscrições proto-cananitas de Harvard - examinou o ostracon e a inscrição, ele ficou duas noites sem dormir", disse Lawrence Stager, professor de Arqueologia Bíblica em Harvard.

Ainda segundo a reportagem da National Geographic, para os arqueólogos minimalistas, Davi e Salomão foram simplesmente personagens fictícios. No entanto, a credibilidade dessa posição foi solapada em 1993, quando uma equipe de escavação no sítio de Tel Dan, no norte de Israel, descobriu uma estela de basalto negro com a inscrição "Casa de Davi" (para maior compreensão do que significa a expressão "Casa de Davi", consulte a obra Escavando a Verdade, do Dr. Rodrigo Silva). Mas, como a Bíblia não pode ser usada como documento histórico, os minimalistas ainda afirmam que a existência de Salomão continua carente de comprovação.

O que Levy escavou em Khirbat en Nahas pode ainda dar muita dor de cabeça para Finkelstein e a escola da baixa cronologia. National Geographic compara: "As minas de cobre de Levy talvez não sejam tão sensacionais quanto o palácio do rei Davi ou o mirante com vista para a batalha entre Davi e Golias. Mas as escavações de Levy abrangem mais tempo e área que as de Eilat Mazar e Yosef Garfinkel, e fazem uso bem mais amplo da análise por radiocarbono para determinar a idade das camadas estatigráficas de seu sítio."

A revista expõe a virulência de Finkelstein, que zomba das descobertas de Garfinkel em Khirbet Qeiyafa: "‘Você nunca vai me pegar dizendo ‘achei um caroço de azeitona num estrato em Megiddo, e esse caroço - contrariando centenas de outras datações por carbono 14 - vai decidir o destino da civilização ocidental.' Ele para de falar de repente e solta uma risada sarcástica. E a ausência de ossos de porco, sugerindo que o sítio é judeu? ‘Um dado, mas não conclusivo.' E a inscrição rara encontrada no sítio? ‘Provavelmente da cidade filistina de Gath, não do reino de Judá.' [...] A hipótese de que uma sociedade complexa do século 10 a.C. possa ter existido nos dois lados do rio Jordão pôs na defensiva a posição de Israel Finkelstein sobre a era de Davi e Salomão. Seus muitos artigos de réplica e seu tom sarcástico refletem essa defensiva, e com argumentos que, não apenas para seus desafetos, muitas vezes parecem apelativos."

Rodrigo Pereira da Silva é professor de teologia no Unasp, doutor em Teologia, especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutorando em Arqueologia pela USP (além de autor do livro recomendado acima). Ele conhece pessoalmente grande parte dos nomes citados na matéria da National Geographic. Já conversou com Filkelstein, foi aluno de Garfinkel (na verdade, sua primeira experiência arqueológica foi sob seu comando, em Shaar ha Golan). Para Rodrigo, o mérito e o diferencial dessa reportagem consistiram em mostrar que, para os arqueólogos, o assunto da historicidade bíblica está dividido. Ele diz: "Antes os artigos deixavam o leitor com a impressão de que todos os arqueólogos sérios e profissionais questionavam a Bíblia e apenas os leigos ou pseudo-arqueólogos (como Erich von Däniken ou Werner Keller) endossavam o texto bíblico com suas pesquisas particulares que não receberiam a chancela de nenhuma universidade."

Segundo Rodrigo, essa situação de polêmica "felizmente fez surgir as figuras de Eilat Mazar e Garfinkel, que têm autoridade acadêmica para discordar de arqueólogos minimalistas como os que, via de regra, desfilam nas páginas de revistas populares como a National, a Superinteressante ou a Época".

Rodrigo faz ainda duas observações com respeito à reportagem:

1. Quando o texto diz: "Há um probleminha: os arqueólogos, depois de procurar exaustivamente por décadas, não encontraram nenhum indício confiável de que Davi ou Salomão tenham construído qualquer coisa", deixa os leitores leigos com uma impressão distorcida da pesquisa de campo em arqueologia. "Posso afirmar que 80% ou 90% da história antiga geral (i.e. não bíblica) não pôde ser ‘confirmada' por escavações arqueológicas. Terremotos, guerras, roubos, ações do tempo, construção de novas metrópoles, etc., puseram a termo ou sepultaram para sempre monumentos e artefatos da antiguidade. Isso não acontece só com a Bíblia, mas com a história em geral. Não há, por exemplo, nenhuma prova arqueológica segura da presença dos imensos exércitos de Alexandre, o Grande, na Índia; o que temos são relatos tardios, escritos 300 anos depois da morte dele (cf. As Vidas Paralelas de Plutarco), e cujos originais também se perderam (o que nos restam são cópias ainda mais tardias)."

Curiosamente, no entanto, poucos historiadores questionam a presença alexandrina desde a Macedônia até as terras indianas. "Ora, se o critério da dúvida, tão advogado em relação à Bíblia, fosse aplicado à história em geral, teríamos que duvidar quase da totalidade do que os livros didáticos nos apresentam. Mesmo na história mais recente, onde estão (arqueologicamente falando) as provas de que Colombo desembarcou nas Antilhas em 1492 ou de que a primeira missa no Brasil foi realizada em Porto Seguro, pouco tempo depois do descobrimento? A resposta é: não há nenhum indício confiável de qualquer desses eventos. Vamos duvidar deles também? Com exceção das pirâmides do Egito e de uns poucos fragmentos do mausoléu de Halicarnasso, onde estão as provas de que as sete maravilhas do mundo antigo de fato existiram?", questiona Rodrigo.

2. Para o professor do Unasp, o tom zombeteiro sobre arqueólogos como os falecidos Yadin, Albright e o renomado Benjamim Mazar (avô de Eilat), que escavavam, como diz o artigo, "com a pá numa mão e a Bíblia noutra", parece o argumento do espantalho, para usar um exemplo de falácia. "Em primeiro lugar", diz Rodrigo, "esses foram alguns dos mais respeitados e renomados arqueólogos de todos os tempos. Ademais, Albright vinha de uma escola humanista que não aceitava certos aspectos da teologia cristã; suas afirmações em relação à Bíblia, portanto, eram baseadas nos fatos e não em suas predisposições ou convicções pessoais." Rodrigo cita também H. Schelermann, que usou justamente um texto antigo (a Ilíada de Homero) como uma espécie de "mapa" para encontrar Troia. E ele a encontrou. "Não creio que a valorização do texto antigo (como é o caso da Bíblia) seja algo anticientífico ou ultrapassado. E não se trata, como diz o artigo, de ‘literalizar' cada frase da Bíblia Sagrada. Eu, pelo menos, não acredito na inerrância do texto bíblico, mas isso não nega que ele esteja descrevendo uma história real."

Luiz Gustavo Assis lembra que a arqueologia tem limites. Existe a confirmação histórica da existência de Davi, feita por Avraham Biran, em 1993, e agora a provável identificação do sítio arqueológico mencionado na famosa história da batalha de Davi contra o filisteu Golias. No entanto, nenhum desses achados prova que o gigante foi morto com uma pedra de funda! Provavelmente jamais seja encontrado documento com uma inscrição como essa. No entanto, a credibilidade histórica da Bíblia não está no vácuo. Existe um terreno sólido sobre o qual o leitor pode caminhar.

(Michelson Borges)

Fonte: Outra Leitura

Nota Outra Leitura: O arqueólogo Michael Hasel está trabalhando com Garfinkel. Clique aqui para ler o artigo que ele publicou sobre o assunto, neste ano, na Adventist Review. E este é o site oficial com a história da descoberta do ostracon: http://qeiyafa.huji.ac.il/ostracon.asp



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