terça-feira, 22 de abril de 2014

Por que não participarei da greve dos professores

Venho refletindo sobre a greve dos professores e, agora que sou professor de escola pública, tenho que dar meu parecer sobre a greve que provavelmente se iniciará amanhã (23/04/14), onde os professores do Estado do Paraná (no caso) irão se reunir em frente ao palácio do governo estadual em uma manifestação a princípio pacífica. Quero enfatizar que respeito aqueles que pensam contrário ao que penso e querem a greve, assim como peço que respeitem a minha opinião formada. Abaixo, seguem meus argumentos do por que não irei participar da greve. Estão divididos em duas partes.

Parte 1
Os professores estamos reivindicando (além de alguns outros pequenos benefícios) 10% de aumento no salário e o governo está oferecendo 6% divididos em duas vezes... Gente, o foco não é a melhoria no salário, mas a reestruturação completa das escolas públicas. 

Se os professores ficarem "mendigando" pequenas melhorias a causa não fica bem defendida. 

Sou a favor de manifestações sim, mas confesso que minha visão é mais macro. Greve não vai resolver muita coisa. As escolas estão sucateadas e defasadas, e só vale mesmo pra valer uma manifestação nacional se for pra dar um 180º nessa situação em que estamos. O Brasil está na vergonhosa 38ª posição no ranking da qualidade de educação entre 45 países, e isso só será possível mudar radicalmente com medidas radicais, como fez a Coreia do Sul e Cingapura, por exemplo. 

Que me desculpem os contrários, mas se ficarmos de grevezinha em grevezinha, quase nada vai mudar. É certo que ajudam um pouco, mas o efeito, na verdade, é mais de desvalorização do que de valorização da categoria. Claro que existe o argumento de que é de pouco em pouco, mas aí não chegaremos a resultados concretos e eficientes... 

Resumindo, apoio a greve, mas meus princípios cristãos e minha visão políticoadministrativa não me permitem participar da greve. 

Mais uma vez, que me desculpem os professores colegas de trabalho, mas eu quero muito mais para a educação no Brasil. Enquanto ocorre a greve, vou orar em prol da educação em nosso país, que é muito mais eficiente. Talvez você discorde, mas estou preocupado com o que Deus acha sobre isso. E falando nisso, segue a parte 2 com meus argumentos baseados em meus princípios religiosos.

Parte 2
A principal razão pela qual eu não vou fazer greve é por uma causa também racional, e cristã. Por seguir princípios cristãos, vejo que se ficarmos de paliativo em paliativo o nosso país não vai sair da situação crítica em que está no que se refere à educação. A seguir, compartilho a mesma ideia de um professor adventista do sétimo dia que escreveu uma postagem após uma das greves gerais de professores:

Alguns meses atrás, minha classe profissional encontrava-se em greve por aumento de salário e outras reivindicações. Não aderi por achar que um cristão não deve participar desses movimentos. Agi de maneira certa? O que a Bíblia e Ellen White dizem sobre o assunto?

Esse é um assunto complexo, pois envolve pessoas e situações muito diferentes, além de dor, sofrimento e injustiça. Quero dar-lhe, porém, os parabéns pela sua atitude. Você, do ponto de vista legal, tinha o direito de envolver-se no movimento, especialmente se as condições de trabalho ou de salário eram desfavoráveis, mas esta seria, realmente, a melhor atitude para um cristão?

A Bíblia não fala sobre greves, como as que conhecemos hoje. Ela recomenda o amor como resposta à injustiça e a oração como instrumento de justiça social (Mat. 5:44; Luc. 6:27). Nosso maior exemplo deve ser Cristo que, numa época de profunda injustiça, não criou nenhum movimento de libertação social, nem uma revolução política, muito menos um grupo de ativistas. Por outro lado, criou um movimento baseado no amor, levando as pessoas a Deus e prometendo, em troca, suprir todas as suas necessidades (Mat. 6:25-33). Quando lhe perguntaram: “É lícito pagar tributo a César?”, Ele respondeu: “Dai, pois, a César o que é de César...” (Mat. 22:17-21). Ele ensinou que um cristão deve cumprir suas obrigações legais até o ponto em que elas não entrem em choque com os princípios do Céu. Caso contrário, deve deixar a justiça nas mãos de Deus.

No tempo de Ellen White, as questões trabalhistas já eram objeto de movimentos grevistas, e isso passou a gerar implicações de grande alcance. Em face desse problema, ela escreveu:

“Em razão de monopólios, sindicatos e greves, as condições da vida nas cidades estão-se tornando cada vez mais difíceis.” – A Ciência do Bom Viver, pág. 364. “Essas cidades estão repletas de toda espécie de iniquidade – com conflitos e assassínios e suicídios. Satanás está nelas, controlando os homens em sua obra de destruição.” – Vida no Campo, pág. 25. “Buscam os homens conseguir que os elementos empenhados em diferentes profissões se filiem a certos sindicatos. Esse não é o plano de Deus, mas de um poder que não devemos jamais reconhecer.” – Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 115. “Os sindicatos trabalhistas rapidamente se agitam e apelam à violência se suas reivindicações não são atendidas. Mais e mais claro está se tornando que os habitantes do mundo não estão em harmonia com Deus.” – Eventos Finais, pág. 23. “Os sindicatos serão um dos instrumentos que trarão sobre a Terra um tempo de angústia tal como nunca houve desde o princípio do mundo.” – Vida no Campo, pág. 16. “Não devemos ter nada que ver com essas organizações. Deus é o nosso Soberano, o nosso Governador” – Eventos Finais, pág. 116.

Nossa distância desses movimentos deve ficar clara. Como cristãos, temos outros meios de promover justiça social. A qualidade de nosso trabalho e a confiança na justiça divina são as melhores ferramentas para um cristão. Nós não fazemos justiça com as próprias mãos. Além disso, temos um Líder mais poderoso que os patrões humanos – nosso Deus, e um instrumento de justiça social mais eficiente que as greves – a fé e a oração. Não vamos ser injustos, ignorantes ou vítimas se nos mantivermos distantes, mas vamos demonstrar equilíbrio, justiça e fé.

Os cristãos nunca deveriam ser conhecidos pela agitação, pelos atritos, críticas ou espírito negativo que semeiam em seu ambiente de trabalho. Devem ser reconhecidos, sim, pela qualidade de tudo que fazem, pelo amor ao próximo e pela honestidade e fidelidade aos princípios bíblicos. Esses valores mantêm empregos, criam o respeito dos chefes e promoção no ambiente de trabalho, além de salários justos. Precisamos lembrar que o testemunho é mais importante do que a reivindicação.

Nossa luta deve ser, sempre, no sentido de servir às pessoas, pois essa é a razão de nossa existência como cristãos. O próprio Filho de Deus veio para servir e não para ser servido (Mat. 20:28). O cristão está sempre mais disposto a servir do que cobrar. Quando alguém é eficiente no que faz e deixa os resultados nas mãos de Deus, faz a melhor escolha.

Se a greve, como no seu caso, não depender de você, pois é um movimento nacionalmente articulado, continue cumprindo suas obrigações. Se for impossível, por causa da violência ou outras ameaças, fique longe da agitação, aguardando apenas o momento de retomar suas atividades.

Alguém poderia utilizar o texto de Mateus 21 para defender a ideia de que Jesus expulsou os cambistas e mercadores do templo com violência e dureza, mas quero te convidar para ler este artigo: Em seu templo

Considerações finais
Não foi à toa que distribuí de presente livros "A Única Esperança" para os meus amigos colegas de trabalho (professores, diretora, pedagogas e zeladoras) no dia de hoje. Tenho a visão de que a nossa única esperança não deve ser depositada nas mãos de um ser humano como o governador do Estado do Paraná, mas sim nas mãos de Deus. Foi isso que expliquei aos professores ao presenteá-los com 30 livros que falam sobre a nossa verdadeira Esperança em meio a um mundo cheio de problemas, tais como o descaso na educação pública: Jesus.

Alguém pode estar lendo este artigo e pensando que eu seja um louco, mas tenho um palavrinha bíblica para quem pensa assim, com todo o respeito:

"Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação." (1 Coríntios 1:20-21)

Tenho muito zelo pela minha profissão/missão e quero o melhor para cada aluno, cada professor e cada funcionário das escolas públicas do nosso amado Brasil. Mas tenho outros métodos mais eficientes para alcançar isso. Métodos baseados na razão e na minha fé, que também é uma fé racional.

A propósito, Fiquei muito feliz hoje com os resultados de notas dos meus alunos dos colégios que trabalho. Nenhuma nota vermelha e todas acima de 2,0 (do valor de 3,0) para as turmas de 9º Ano, onde a maioria das notas foram excelentes (2,6; 2,7; 2,8; 2,9 e 3,0). Me realizo profissionalmente assim. 

Muitos desafios ainda virão, ainda mais que agora passei no concurso da SEED-PR (Secretaria de Estado da Educação do Paraná), mas a minha parte eu estou fazendo para termos uma educação de qualidade para todos. Sempre procuro ministrar aulas dinâmicas, com o uso de recursos tais como slides de power point pelo projetor multimídia (quando disponível) e posto aqui no blog; aulas expositivas que incitam o senso crítico dos alunos com questionamentos; aulas de campo; amostras de materiais didáticos tais como amostras de rochas e minerais; mapas impressos; avaliações bem elaboradas etc.

Quero uma educação de qualidade para o meu país; não quero paliativos.

Um país sério é um país que trata como prioridade a educação de suas crianças.

Reflita você também, caro amigo professor e demais leitores deste artigo, principalmente você que tem a mente aberta (uma macrovisão sobre o assunto) e segue princípios bíblico-cristãos.

Uma abraço e a paz de Jesus!

Prof. André Luiz Marques

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